9.8.03

[em Madrid]

Fez ontem 25 anos que morreu Ruy Belo.
Também em 1978 morreram Vitorino Nemésio e Jorge de Sena.

Na minha terra os poetas morrem de nao lhes parar o coraçao

8.8.03

[em Barcelona, ainda]

Nestes dias aqui a poesia que mais me tem ocorrido é a de Ângelo de Lima. Parece-me que isso se deve â leitura e escuta permanente da língua catala, que faz tangentes (e secantes...) ao francês, ao italiano, ao castelhano e parece-me que também ao basco e eventualmente ao árabe, numa confusa sugestao babélica.

Mas creio que também Miró e Gaudí sao responsáveis por esta ocorrência em mim do habitante de Rilhafoles. Considerando, claro, as diferenças:
a arquitectura é sobretudo a arte de ocupar o espaço, de estar presente;
a pintura ensina a voar, a pairar, a flutuar sem espaço;
a poesia é, como lembra Luiza Neto Jorge, aprender a cair - perder o espaço.

(E quando as três se juntam?)

7.8.03

[em Barcelona]

Gostava de andar como o Caetano, sem lenço nem documento.

Mas preciso de lenço para limpar o suor, e do documento para provar que nao sou um marroquino ilegal.
[em Barcelona]

Hoje foi: La Pedrera (Casa-Museu Gaudí) - Fundació Tapiés - Centro de Cultura Contemporânea - Museu Nacional de Arte Contemporânea.

Ver tanto museu duma vez só confunde muito. Mas é uma confusao fértil.

6.8.03

[em Barcelona]

Vi uma exposiçao temporária, no Museu Nacional de Arte da Catalunha, dedicada à arte oriental das colecçoes reais de Espanha.
Contra a ideia que se tem de que os espanhóis sao sempre injustos com os portugueses, há inúmeras referências a Portugal. Antes de mais, grande parte das peças ostenta a designaçao de 'Arte Indo-Portuguesa'.
Depois, fica-se a saber que: se o rei nao fosse o mesmo em ambos os países, Espanha nunca teria conquistado as Filipinas; os produtos (incluindo obras de arte e peças litúrgicas) oriundos do Japao, da Índia e da China, chegavam a Madrid passando por Lisboa; quem popularizou o (agora) tradicional 'abanico' em Espanha foi a mulher de Filipe II (I de Portugal), Maria, a portuguesa.

Já agora: as reais colecçoes, pelos vistos apenas têm um biombo de arte Nambam, que só tem figuras de japoneses, enquanto que em Portugal temos uns poucos, com os famosos narizes compridos.
[em Barcelona]

No Museu de Arqueologia, numa parte dedicada à Cultura Púnica (séc. III/IV a. C.), vejo umas pequenas figuras de barro com os braços abertos que parecem Cristos, icrivelmente parecidas com as esculturas de Rosa Ramalho.
[em Barcelona]

Quase peregrinaçao, monte acima, para ver museus.

Há uma zona de Barcelona, parecida com algumas de Sintra, que tem muitos museus. Sobe-se, visita-se o Museu de Arqueologia, depois o de Etnologia, depois o Museu Nacional de Arte da Catalunha, por fim, a Fundació Juan Miró, que se fica a perceber muito melhor depois de ver os outros.

4.8.03

[em Madrid]

Fui ontem ao Prado e ao Rainha Sofía.
As Metamorfoses de Jorge de Sena marcaram este dia: primeiro, a impressao de ver os Fuzilados do 3 de Maio de Goya, que eu só conhecia de fotografias e que ganha outra dimensao ali ao pé; depois, no caminho até ao Rainha Sofía, parei num mercado de rua de livros e a primeira coisa com que me deparo é um monte de revistas National Geographic e no cimo de tudo o número de Fevereiro de 1974 que contém a fotografia de um velho do Bornéo a dançar e que motivou a Sena uma belíssima metamorfose que dedicou a Ruy Cinnatti - andava atrás deste exemplar, por tudo o que é alfarrabista em Lisboa, desde que li pela primeira vez as Metamorfoses, há uns dez anos atrás.

Além de tudo isso é indescritível a sensaçao de ver tanta obra de arte num só dia.