3.5.14



DANIEL JONAS


SE NÃO TE AMAREM FINGE QUE NÃO AMAS.
E se te amassem outro amariam:
E só a si, se bem que fingiriam
Amar-te e dar-te a ti o que reclamas.
Pois mesmo que te amassem mentiriam.
E se amam outro a si outrossim amam
E noutrem só a si mesmo reclamam,
Que amante e coisa amada se diriam...
E porque hás-de fingir que amam a ti
Se não se amam em ti sequer mas noutro?
Porque hás-de amar alguém que ama nestoutro
A imagem de si mesmo, e só a si?
Esse ama quem não te ama, afinal…
E mesmo que ame, esse é o teu rival

–//–

PERDOA-ME, SENHOR, POR NÃO SER DIGNO
De mim, de mim sou escasso, o meu fracasso,
Sou qualquer coisa aquém de quem não faço
Ideia, sendo esquivo ao próprio signo.
Oh, vai mudando sempre o meu destino.
Onde me pus? Nem sei... Sou um mendigo.
Acarto com a casa do que digo
E lúcido de próprio desatino.
De mim já fui capaz, agora sou
Só velho, sobre mim me mesurando,
Vassalo e suserano de mim mesmo.
Do meu sonho, o que resta, acordou?
E a mola de rapaz cercas pulando?
Um velho vê cercado o seu sesmo…


(de Nó – sonetos, Assírio Alvim, 2014)