23.7.06

[em face dos últimos acontecimentos]

TROVANTE

Beirute


Quem recordará como foi
Duvido que ainda haja alguém de pé
Que tenha dançado ao som das noites quentes
De Beirute

Será que alguém chora um ausente
Já não há ninguém para ausentar
Já não há ninguém para soluçar
Em Beirute

Em Beirute
Nem o sol nasce
Em Beirute
Como merece
É mais quente que o ar do deserto
É mais escuro que um buraco aberto
Na memória de uma terra ainda morna
Que já não torna
A ser Beirute

Em Beirute há bares fantasma
Onde outrora o amor se acoitou
E a alegria andava lado a lado
Com Beirute

Na terra onde o calor é quem manda
Havia uma cidade que era assim
Dizia nessa altura mais para mim
Do que Beirute

Quando enfim a história virar
Num tempo de arqueólogos errantes
Veremos corpos e ruínas militantes
Por Beirute

Encontraremos gente tão velha
Que nem parece ser da nossa era
Beijaremos os filhos da guerra
E choraremos
Por Beirute

(do álbum Um destes dias, 1990 - Letra de Luís Represas / Música de João Gil)