6.12.03

[mais um que se apercebeu do sagrado do mundo no olhar de um transeunte]

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

Calle Principe, 25


Perdemos repentinamente
a profundidade dos campos
os enigmas singulares
a claridade que juramos
conservar

mas levamos anos
a esquecer alguém
que apenas nos olhou

(de Baldios, Assírio & Alvim, 1999)
S. S. KHARKIANÁKIS

é bispo da Igreja Ortodoxa Grega de Sydney, Austrália.


Intensive care

A poesia, irmã, não é
Nem canção, nem reflexão.
Poesia é «cuidado intensivo»
Aplicado à criação em sangue
E sobretudo registo
De como a vida conduz à morte.


O cidadão de hoje

As relações com os semelhantes
Tornaram-se tão complicadas
Que as únicas actividades que não exigem conselho jurídico
São os desmaios, o enjoo e as lágrimas.


O humanismo das árvores

As árvores fiéis ficam onde as plantamos
Derrotam a inércia da morte
Absorvem a distância com uma constância sem falhas
Com todo o seu corpo bandeira rumorejante
Ralham aos bichos pelos seus
Movimentos sem rumo.


Antropocentrismo

O sagrado do mundo não está contido
Na história do Génesis
Pois ninguém a viveu
Nem estamos obrigados a cálculos devotos.
O sagrado do mundo é função
Duma dor vivida que não se pode registar
Num diário pessoal nem numa obra de arte
Pois não dispomos de instrumentos para tal.
O sagrado do mundo apercebi-o
Fitando o profundo olhar dum transeunte
Que ia sendo atropelado
Ao passar distraído na passadeira.

(in Di Versos, 6 - Outono de 2001 - tradução de Manuel Resende)
Ontem, no Telejornal, um octogenário de Castelo Branco, a quem a polícia apreendeu um arsenal bélico de fazer inveja a um pequeno exército, declarava com o maior à-vontade e com um sorriso na cara:

"Não há nenhuma lei que proíba um cidadão de cometer crimes."

5.12.03

TAMARA KAMENSZAIN

Nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1947.
Começou a publicar em 1973.
É um dos nomes mais significativos da poesia argentina contemporânea.

ESCUDO DE DAVID

Debaixo de sua boina negra
há um teto inflamável
turbulências
as nuvens vermelhas do trópico
flamejam acaloradas
a meio pau sobre Havana Velha
onde ninguém sabe dizer
onde repousam os restos
o que resta de mim
me deixa à mercê
de meu próprio mausoléu
puta
detida sobre seus pés
não espero por ninguém
e insisto que alguém
tem que chegar
um messias
sobre sua boina negra ladeado
o olho da tempestade
o manto celestial que arranque
pontas estreladas
dos óculos de Trotsky
estilhaços de um herói que se estampa
entre o peito e as costas
uma camiseta ferida
vale como escudo.


ANTEPASSADOS

Aonde vão?
Vou com eles descendo de meus filhos
até onde queiram chegar astros circulantes
se na hora do nascimento calcularam ascendente
não o abandonem mais.
Do Mar Negro até o Estreito
naturalizam-se comigo de mim procedem
meninos de sobrenome decomposto
viajando para ser argentinos
imigrantes por vomitar no convés
dando voltas eles nos voltam
como vinil arranhado dos beatles
da Rússia para cá
e daqui para a URSS que foi
donos de um deserto que avança
bisavós do nada.


MURO DAS LAMENTAÇÕES

Uma pasta vazia
sobre a mesa vela os restos
Com o quê escrever agora?
Resta apenas
o alefbet que com a ponta de mármore
anota nome e data
em outro mundo.
Cega, leiga, analfabeta,
que eu não bata a cabeça
contra a tumba imponente
dessa parede.

(de O gueto, Moby-Dick, 2003 - tradução de Carlito Azevedo e Paloma Vidal - este livrinho está a ser distribuído juntamente com o último número da revista Inimigo Rumor)
NELLY SACHS

Nasceu em Berlim, em 1891.
Começou a publicar em 1921 e recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1966.
Morreu em 1970.

MÃOS
Dos jardineiros da Morte,
Que da macela do berço,
Que medra nas várzeas duras
Ou na encosta,
Fizeste nascer morte, o monstro de estufa do vosso ofício.
Mãos,
Que arrombais o tabernáculo do corpo,
Filando como dentes de tigre os sinais dos mistérios -
Mãos,
Que fizestes vós,
Quando éreis as mãos de crianças pequenas?
Pegastes numa gaita de beiços, nas crinas
Dum cavalo de baloiço, agarrastes a saia da mãe no escuro,
Apontastes pra uma palavra na cartilha -
Era talvez Deus, ou Homem?

Ó mãos degoladoras,
Morreu a vossa mãe,
A vossa mulher, o vosso filho?
Pra manterdes assim só a morte nas mãos,
Nas mãos degoladoras?

(de Nas Moradas da Morte / In den Wohnungen des Todes, Berlim, 1946)


MÃE DE LUTO

DEPOIS DO DESERTO do dia,
no deserto do entardecer,
sobre a ponte q o amor
com lágrimas construiu sobre dois mundos,
veio o teu menino morto.
Todos os teus caídos castelos no ar
os cacos dos teus palácios devorados pelas chamas,
cânticos e bênçãos
desmoronados no teu luto,
cintilam à volta dele como um castelo
que a morte não conquistou.

A sua boca orvalhada de leite,
a sua mão que se adiantou à tua,
a sua sombra na parede do quarto
uma asa da noite,
com a lâmpada extinta regressando a casa -
na praia para Deus
espalhado como cibo pra pássaros num mar
o som do eco da prece de criança
e o beijo caído por sobre o debrum do sono -
Ó mãe de lembrança,
nada mais é teu
e tudo -
pois as estrelas cadentes buscam
através dos campos de papoilas do esquecimento
no seu caminho de regresso o teu coração,
pois todo o teu conceber
é dor desamparada.

(de Escurecer as Estrelas / Sternverdunkelung, Amsterdão, 1949)


MAS DE NOITE,
quando os sonhos c'uma lufada de ar
levam paredes e tectos de quartos,
começa a peregrinação pra os mortos.
Sob o pó de estrelas os procuras -

A tua saudade vai construindo a irmã -
dos elementos que a mantêm escondida
traze-la cá pra dentro
até que ela respira no teu leito -
mas o irmão vai dobrar a esquina
e o esposo regressou já muito alto
então a humildade faz-te emudecer -

Mas depois - quem interrompeu a viagem -
começa o regresso -
Como os queixumes das criancinhas
assustadas co'a Terra
estás tu -
a morte dos mortos abateu-se
c'o tecto do quarto -
protectora jaz a minha cabeça sobre o teu coração
o amor - entre ti e a morte -

Assim chega o crepúsculo
espalhado co'a semente rubra do Sol
e a noite desfez-se em lágrimas
dia dentro -

(de Terra de Israel / Das Leiden Israels, Francoforte do Meno, 1964)


Escuro ciciar do vento
na seara
A vítima pronta ao sofrimento
As raízes estão caladas
mas as espigas
sabem muitas línguas maternas -

E o sal no mar
chora na distância
A pedra é uma existência de fogo
e os elementos puxam pelas cadias
pra a união
quando a escrita espectral das nuvens
recolhe imagens primevas

Mistério na fronteira da morte
«Põe o dedo nos lábios:
Silêncio Silêncio Silêncio» -

(de Enigmas em Brasa / Gluhende Ratsel, incluído em Spate Gedichte, Francoforte do Meno, 1965)

(poemas incluídos em Poemas de Nelly Sachs, antologia, versão portuguesa e introdução de Paulo Quintela, Portugália, 1966)
YEHUDA AMICHAI

é um poeta e novelista. Grande parte da sua obra foi traduzida para outros idiomas, assim como a sua novela Não desta época, Não deste lugar. Em 1982, recebeu o Prêmio Israel de Poesia.
[Como já foi dito, há mais informações no Quartzo]


NOS MONTES DE JERUSALÉM

Aqui onde a ruína anseia reerguer-se,
Seu desejo é agregado ao nosso.
Mesmo os espinhos, cansados de ferir,
Querem consolar.
E a lápide, arrancada de uma sepultura profanada,
Foi colocada na nova muralha, com seu nome e suas datas.
E alegra-se, porque não será esquecida.
E as crianças, as únicas que poderiam tudo mudar,
Brincam entre rochas e ruínas.
Elas nada querem modificar.

O cancelamento de uma noite de amor no Neguev
Faz nascer uma flor nos montes de Jerusalém.
Coisas se esvaziam e se enchem,
E nem sempre você está entre as que se enchem.
E o tomilho, nem sempre cura,
Mas rasga uma profunda ferida no esquecimento,
Recordação de uma sede antiga.

Todos aqui se ocupam da tarefa de lembrar.
A ruína se lembra, se lembra o jardim,
O poço recorda suas águas e o bosque, que o plantaram,
Lembra-se, na laje de mármore, um holocausto distante
Ou mesmo, somente o nome de um doador morto,
Para que seja lembrado um pouco mais que os outros.

Mas nomes não são importantes nestes montes.
Como no cinema, quando da lista de participantes na tela
Antes do filme, ela ainda não é interessante; e no fim do filme -
Já não o é mais. Acendem-se as luzes, as letras se dissolvem
E desce a ondulada cortina, as portas são abertas e do lado de fora é noite.

Para esses montes somente o verão e o inverno são importantes,
Somente o seco e o molhado: e até mesmo as pessoas
São meros receptáculos da água dispersa em volta,
Como poços e cisternas e fontes.


NAS LARGAS ESCADAS - A POSTOS À ESPERA DA FELICIDADE

Nas largas escadas que descem para o Muro das Lamentações
Uma linda mulher me apareceu: "Você não se lembra de mim,
Eu sou Shoshana, em hebraico. Sou outra em outras línguas.
É tudo futilidade".
Assim disse ela na hora do crepúsculo, de pé entre o destruído
E o em construção, entre a luz e a escuridão.
Pássaros negros e pássaros brancos trocavam lugares
Ao compasso intenso da respiração.
A luz das câmeras dos turistas iluminou também a minha memória:
O que faz você aqui entre o prometido e o esquecido,
Entre o esperado e o imaginário?
O que faz você aqui à espera da felicidade,
Com seu lindo rosto de garota-propaganda do turismo de Deus,
E sua alma dilacerada e rasgada como a minha?

Ela me respondeu: Minha alma está dilacerada e rasgada como a sua
E é isso que a faz bonita,
Como uma fina renda.


O MOINHO EM YEMIN MOSHE

Este moinho jamais moeu farinha.
Ele moeu ar santo e os pássaros
da saudade de Bialik, ele moeu
palavras e tempo triturado, ele moeu
chuva e até mesmo bombas,
mas ele jamais moeu farinha.

Agora ele nos descobriu,
E mói a nossa vida, dia a dia,
fazendo de nós farinha da paz,
fazendo de nós o pão da paz
para as gerações futuras.


UM PASTOR ÁRABE PROCURA UM CABRITO NO MONTE SION

Um pastor árabe procura um cabrito no Monte Sion,
E no monte em frente eu procuro por meu filho pequeno.
Um pastor árabe e um pai judeu
Ambos no seu temporário fracasso.
Nossas vozes se encontram sobre
A piscina do Sultão, no vale entre nós.
Nenhum de nós quer que o filho e o cabrito
Entrem no terrível processo
Da música da Páscoa "Um Cabrito".*

Depois achámo-los entre os arbustos,
E nossas vozes retornaram a nós
E choraram e riram por dentro.

As buscas de um cabrito ou de um filho
Foram sempre
Começo de uma nova religião nestes montes.

_______________________________________

* Uma cantiga infantil cantada no encerramento da Páscoa dos judeus, com o propósito de ilustração moral, mostrando como os opressores dos judeus, através da História, foram destruídos pela divina retribuição por terem perseguido o "um cabrito" - o Povo Judeu.

(Apresentação do Autor, poemas e nota publicados em ariel - Revista de Artes e Letras de Israel, 1983 - edição especial para língua portuguesa, recolhendo textos da edição normal - tradução de Clara Rosenberg)
PEQUENA EXPLICAÇÃO E AGRADECIMENTOS

Os poemas que aqui publiquei ontem iniciam uma sequência que se pretende multi-religiosa e que parte de uma espécie de preparação que fiz para o encontro de que falei anteontem.

Por feliz coincidência, no regresso, constatei que no Quartzo publicaram um dos poetas que fazia parte dessa escolha, Yehuda Amichai, de quem eu só conhecia os poemas e a referência que publicarei de seguida. O Quartzo dá muito boas pistas para conhecer este poeta e publica uma tradução inédita de Miguel Gonçalves.

Também o Quartzo fez, entretanto, uma referência aos poemas de ontem
Também o amigo catalão Ferran, me refere, oferecendo-me um inventário de Gloria Fuertes e ainda um novo amigo galego, que partilha a admiração por Chesterton.

Enquanto estive fora houve ainda uma outra referência feita pelo Miguel da Cibertúlia, a propósito do Ivan, que lamenta conhecer poucos católicos.

4.12.03

HASSAN ABDALLAH AL-QORACHI

Nasceu em Meca, Arábia Saudita, a 12 de Dezembro de 1934. fez os estudos liceais em Fellah e, depois, com interrupções, frequentou a Universidade, em Ryadh, onde seguiu cursos de História.
Após trabalhar no Ministério das Finanças e na Rádio, e com Embaixador do seu país no Sudão e na Mauritânia, Al-Qorachi consagra-se às viagens e à poesia.
Publicou mais de uma dezena de livros, entre os quais Cor dos Sorrisos, Música Azul, O Lago da Sede e, por último, A Vagabundagem das Caravanas...
O poema antologiado pertence a O Lago da Sede.


PARA QUEM A GLÓRIA

A glória, nesta vida, é para quem paga os seus dias
com tudo o que possui
com pão, com alegria e com sangue
para quem espalha as suas dádivas e dissipa os perfumes
d'alma, do coração que escorre, gota a gota,
do incêndio das dores
A pura glória desta vida é só para quem morre
por um princípio, uma ideia
uma mão-cheia de terra
pelo canto de um pássaro nos jardins amáveis
por uma mulher com o rosto banhado em lágrimas
um sorriso furtivo nas rugas do pai
um chilreio nos lábios da criança
pelo riso do rio
uma tenda que os ventos açoitam de noite
a brotar de uma planta na encosta da montanha


(Versão de Muhammad Abdur Rashid Barahona)

(Apresentação do Autor e poema publicados em O Selo - Revista de Cultura Islâmica e Universal nº 3, 11 de Janeiro 1994 / 28 de Rajab 1414)
ABDEL KARIM AKKUM

Poeta algeriano, nascido em 1915 e morto no decurso da revolução em 1959. a sua poesia tem um recorte clássico e versa, além dos trágicos acontecimentos da sua época, temas de meditação sobre a Natureza (o Livro de Deus escrito no visível).
Escolhemos este poema de Abdel Karim, mártir do colonialismo de outrora, em homenagem aos mártires de agora, vítimas de uma minoria de algerianos, que se afastou do Islame e tenta manter, a preço de morte e encarceramento, esquemas políticos e sociais, importados da Europa e em tudo estranhos e adversos à tradicional cultura islâmica do país.


O OCEANO

Eis-me na tua companhia. Diálogo deslumbrante.
Ó oceano! escuta bem este meu canto!
Nós somos dois a misturar os nossos ritmos harmoniosos.
Na vastidão desértica da vida árida
Só tu és meu amigo.
Bastou-me contemplar tua beleza
E logo minha alma triste se alegrou.
E mais do que a presença d'amigos dilectos
Tua presença a solidão preenche nos meus pensamentos.
Tu existes, sim, tu existes, e tal não é suficiente
Para desvanecer, da minha vida, a angústia?
Dize-me, há em ti remédio para as minha feridas?
É em ti que reside a liberdade fora do obscuro?
Ou, por outra, será que tu e eu estamos ambos ligados
À fatal alternância do dia e da noite?
Hoje, ficarei junto de ti até anoitecer.
Eis que te trago a minha esperança, peço-te protecção.
Eu canto o grande movimento da tua música, o espectáculo
Eterno d'altas vagas que se quebram e, muito ao longe, o teu eco legião.

Da beleza tu foste, para nós, o receptáculo. Desde então,
Sem cessar, proclamamos o teu nome.
Tu és eternamente o mistério genitor
D'orgulho e da grandeza.
Harpa de majestade, ó esplendor que explodes,
Meu canto esgota-se ao contacto dos teus sons!
Fonte viva de água vívida, onde a inspiração vem beber os versos,
Fonte fecunda e fixa além d'imensidão,
Tu repousas em paz, quando o vento amaina a sua rápida loucura,
Ou abrasada em fogo, a falar em chamas,
Tu não temes o vento, quando ele ribomba
Como um trovão por sobre a tua espuma,
Quando as nuvens são almofadas pretas a tapar o horizonte
E quando a noite circunscreve a matéria viva à sua face.

Mas, onda após onda, cais enamorado das raparigas
Belas, nuas, de seios rutilantes como estrelas cadentes
No azulíssimo cerúleo da tua água salgada.
Com a tua beleza se enfeitam e paramentam os seios.
Sobre ti, se debruçam, espelho mágico,
Onde cintila, em colares infinitos, o mar dos seixos rolados.


(Versão de Muhammad Abdur Rashid Barahona)

(Apresentação do Autor e poema publicados em O Selo - Revista de Cultura Islâmica e Universal nº 2, 11 de Julho 1993 / 21 de Muharram 1414)

3.12.03

Lord ROBERT BADEN-POWELL

Não há qualquer lado religioso do Movimento [escutista]. Ele é todo baseado na religião, isto é, na compreensão e no serviço de Deus.

(in Headquarter's Gazette, Novembro de 1920)


Pediram-me que descrevesse mais pormenorizadamente o que tinha em mente a respeito da religião quando instituí o Escutismo e o Guidismo. Perguntaram-me: «Onde é que entra a religião?»
Pois bem, eis a minha resposta: «Não entra em parte nenhuma. Já lá está. É o factor fundamental subjacente ao Escutismo e ao Guidismo».
[...]
A religião não é uma ciência reservada aos que têm estudos, de outra forma apenas aproveitaria aos eruditos e aos intelectuais, e estaria fora do alcance dos pobres; também não é uma feitiçaria, pois dessa forma apenas se apoderaria dos caracteres mais fracos, dos emocionais e dos supersticiosos.

(de uma alocução à Conferência de Comissários do Escutismo e do Guidismo, em 2 de Julho de 1926)


Para os mais novos, digo: Avancem com Esperança, misturem-na com optimismo e temperem-na com o sentido de humor que vos torna capazes de enfrentar as dificuldades conservando o sentido das proporções. Avancem com Fé, na sensatez, na segurança e no vigor do Movimento e das futuras possibilidades, e avancem com Amor, que é o mais poderoso de todos os agentes. Este espírito de amor é, afinal, o espírito de Deus trabalhando convosco.

(in The Scouter, Dezembro de 1937)


O respeito para com Deus, o respeito pelo próximo e o respeito por nós próprios como servos de Deus, está na base de todas as formas de religião.

(in Aids to Scout mastership, 1944)


Podem surgir muitas dificuldades sobre a definição da formação religiosa no nosso Movimento, onde existem tantas confissões diferentes, e os pormenores da expressão dos deveres para com Deus têm, por isso, de ficar em grande parte ao arbítrio da autoridade local. Mas insistimos na observância e na prática da religião professada pelo rapaz, qualquer que ela seja.

(in Aids to Scout mastership, 1944)

[citações retiradas de O Rasto do Fundador, CNE publicações, 1986 - compilação de Mario Sica, tradução de José Francisco dos Santos e João Paulo Leandro Feijóo]
CONCÍLIO VATICANO II

Sendo assim tão grande o património espiritual comum aos cristãos e aos judeus, este sagrado Concílio quer recomendar e fomentar entre eles o mútuo conhecimento e estima, os quais se alcançarão sobretudo por meio dos estudos bíblicos e teológicos e com os diálogos fraternos.

(da declaração conciliar Nostra Aetate: A Igreja e as Religiões não Cristãs, 1964)

[um Rabino presente no encontro em que estive recordou este texto e sugeriu que pensássemos nele alargado a todas as religiões e respectivos escritos sagrados]
Cheguei ontem de Valência, onde estive a participar num encontro inter-religioso de escuteiros.
Foi muito bom.
O facto de termos estado 115 pessoas de várias religiões a debater assuntos que interessam a todos resultou, penso eu, devido ao facto de todos sermos escuteiros. Ou seja: há uma realidade comum, de grande importância, que relativiza questões que nos poderiam afastar ou criar conflito ninguém tentou converter ninguém nem ninguém disse como os outros se deveriam comportar.

Prefiro criar amigos do que criar consensos.