2.4.06

RUI ANDRÉ DELÍDIA

PARA ONDE PENSANTE


Para onde pensante
esvoaça esta nuvem?
que segredo lhe viaja dentro?
talvez o seu sopro
raiz antiquíssima
dos gritos, indócil
chama múltipla
aos olhos una
água reflorida

em forma de anjo
flamejante
violino áleo
irradiando música
no centro do vento
diurno, nasce
o sideral silêncio
dos espelhos longínquos
o Tempo escapa
à sedução dos relógios

suspensa a tua mão
dá-me essa harpa
dourada, na inexistência
de respostas é nóbile
a exaltação das perguntas
desce das nascentes
dos espelhos, a tua face
adolesce, perfeita de sol
esbelta figueira
subitamente enlouquecida.

(de Do fogo (1981-1991), in Arte Inútil, Hiena editora, 1991)