23.6.11

FERNANDO CORREIA PINA


O BIBLIOTECÁRIO SEGUNDO S. LUCAS


Estou tão bem quanto o pode estar
o que respira e ás vezes pensa
na morte inevitável, tarde ou cedo.
Habito entre o êxtase e o medo,
entre o tempo a correr pelo meu curso
e o meu curso desfeito pelo tempo.
Estas estantes são as oliveiras do meu monte...
estes livros são os apóstolos e a multidão...
acodem-me à memória muitas vezes...
Muitas vezes sou todos os homens
sós à beira de um cálice infinito.


(in Poetas e Escritores da Serra de S. Mamede, organização de Ruy Ventura, Amores Perfeitos, 2002 / originalmente da revista A Cidade, nova série, n° 3, 1989)

21.6.11

TIAGO PATRÍCIO


A CATURRITA DO JARDIM TROPICAL DE BELÉM


Ave que passa
que põe e dispõe da luz
que acorda os corpos
sinónimos em Belém
e repassa pela calçada
como se fosse
a beleza inteligível

Ave exótica que descalça
o jardim pela sombra
onde o Verão excessivo
refulge com o olhar trémulo
e me toca debaixo
dos arbustos insulares

Ave que ofusca e reluz
que esconde e aparenta
os sintomas de penas interiores
e um canto sinóptico
de uma insolência elementar


(de O Livro das Aves, edições Quasi, 2009)