19.5.08

CRISTOVAM PAVIA

O rouxinol gotejando vidro matinal e embaciado
No meio da noite,
No meio da planície, que é o meu corpo,
Ao relento da noite escura...
A queimadura fria do pirilampo no musgo,
Guardando debilmente a infância
Sob os ventos livres dormindo sob a abóbada levíssima.

(de Poesia, Moraes editores, 1982 – Círculo de Poesia)
Revistas...

Uma boa notícia (que podia ser melhor) e uma má notícia.

18.5.08

ANA HATHERLY

A DESCOLOCAÇÃO NO ESPAÇO OU NO TEMPO

O acaso é uma noção científica.
O uso do acaso é um acaso como a utilização humana dos seres humanos.
A utilização dos seres humanos é um acaso usual como os seres humanos são acaso.
O acaso é cientificamente ocasional e como tal é usado.
E tudo o que é usado é ocasional
como o não usado
enquanto tudo é acaso, noção cientifica do instante em série.
O acaso é uma progressão serialmente ordenada e harmonicamente conjugada e como tal ocasional e uso.
Cientificamente o acaso é o que é constantemente recolocado no seu ser não estando
E constantemente se deslocando finalmente se coloca fora do seu ser em tudo estando e não
Serialmente acontecendo e não sendo
Pela sua deslocação constante no espaço ou no tempo ou no acontecimento.
A utilização humana do acaso é a consequência do acontecimento do acaso humano
que utiliza
e por ele é utilizado.
O acontecimento humano é um acaso que a todo o instante necessita colocação no espaço ou no tempo ou no próprio acontecimento do acaso em sua fronteira.
E buscando a sempre descolocada fronteira do acaso a si próprio se descoloca.
Se descolocando se desloca e desse modo sempre procura colocar-se paralelamente ou do outro lado do acaso que acaso se chamará passar para o outro lado
Ou cruzar a fronteira do acaso é buscar o uso da colocação a utilidade intrínseca do acontecimento.
O viajante que a todo o instante tenta cruzar a fronteira do espaço ou do tempo ou do acontecimento arde na intensa pira do acontecimento perseguido e no espaço ou no tempo ou no movimento ocasiona o núcleo invisível da fronteira que separa um, acontecimento do outro e tudo reúne sob a forma de deslocação.
O acaso está sempre em estado de ser colocado e a todo o instante procurado se recoloca no acontecimento instante do seu ser entretanto
acaso único e usual utente.
E no desfazamento entre o que é acaso e o que ocasionalmente é ocasionado está o acaso permanentemente descolocado.

(de Estruturas Poéticas – Operação 2, 1967)