31.12.05

Deixo aqui a minha escolha dos melhores livros de poesia que li durante 2005 e que enviei para a lista do Livro Aberto, de Francisco José Viegas:

Ana Luísa Amaral, Poesia Reunida: 1990-2005 (Quási)
Armando Silva Carvalho, Sol a Sol (Assírio & Alvim)
Isabel de Sá, Repetir o Poema (Quási)
João Almeida, A Formiga Argentina (Averno)
José Tolentino Mendonça, Estrada Branca (Assírio & Alvim)
Manuel de Freitas, A Flor dos Terramotos (Averno)
Paulo Teixeira
, Orbe (Caminho)
Pedro Sena-Lino, deste lado da morte ninguém responde (Quási)
Rui Coias, A Ordem do Mundo (Quási)
Rui Pires Cabral, Longe da Aldeia (Averno)

[sem ainda conhecer o conteúdo, apostaria nos dois de José Emílio-Nelson que ainda não apareceram nas livrarias: A Festa do Asno e Gag Dag (Canto Escuro)]

Ezra Pound, Os Cantos (Assírio & Alvim)
Konstandinos Kavafis, Os Poemas (Relógio d'Água)
T. S. Eliot, Prufrock e Outras Observações (Assírio & Alvim)
William Blake, Sete Livros Iluminados (Antígona)

[entre os meus livros de poesia de 2005 está também um ainda inédito, que o Autor, Ruy Ventura, teve a amabilidade de me enviar e do qual postei aqui um poema: Habitação do Tempo]

26.12.05

DYLAN THOMAS

The Hand that Signed the Paper


The hand that signed the paper felled a city;
Five sovereign fingers taxed the breath,
Doubled the globe of dead and halved a country;
These five kings did a king to death.

The mighty hand leads to a sloping shoulder,
The finger joints are cramped with chalk;
A goose's quill has put an end to murder
That put an end to talk.

The hand that signed the treaty bred a fever,
And famine grew, and locusts came;
Great is the hand the holds dominion over
Man by a scribbled name.

The five kings count the dead but do not soften
The crusted wound nor pat the brow;
A hand rules pity as a hand rules heaven;
Hands have no tears to flow.

(publicado pela primeira vez em 25 Poems, 1936)


A MÃO ASSINOU O PAPEL

A mão assinou o papel e abateu uma cidade;
Cinco dedos soberanos colectaram a respiração,
Dobraram o globo de mortos e desertaram meio país;
Estes cinco reis fizeram morrer um rei.

A mão poderosa leva a um ombro curvado,
Os nós dos dedos crispam-se com cal;
Uma pena de ganso pôs fim ao assassínio
Que pôs fim às falas.

A mão assinou o tratado e gerou uma febre,
E cresceu a fome e vieram os gafanhotos;
Grande é a mão que tem domínio sobre
Os homens por um nome garatujado.

Os cinco reis contam os mortos sem suavizar
A crosta da ferida, sem acariciar o rosto;
Mão que governa a mágoa qual a mão que governa o céu;
As mãos não têm lágrimas para chorar.

(tradução de Joaquim Manuel Magalhães, in Dylan Thomas - consequência da literatura e do real na sua poesia, Assírio & Alvim, 1981 - Cadernos Peninsulares / ensaio)


A MÃO AO ASSINAR ESTE PAPEL

A mão ao assinar este papel arrasou uma cidade;
cinco dedos soberanos lançaram a sua taxa sobre a respiração;
duplicaram o globo dos mortos e reduziram a metade um país;
estes cinco reis levaram a morte a um rei.

A mão soberana chega até um ombro descaído
e as articulações dos dedos ficaram imobilizadas pelo gesso;
uma pena de ganso serviu para pôr fim à morte
que pôs fim às palavras.

A mão ao assinar o tratado fez nascer a febre,
e cresceu a fome, e todas as pragas vieram;
maior se torna a mão que estende o seu domínio
sobre o homem por ter escrito um nome.

Os cinco reis contam os mortos mas não acalmam
a ferida que está cicatrizada, nem acariciam a fronte;
há mãos que governam a piedade como outras o céu;
mas nenhuma delas tem lágrimas para derramar.

(tradução de Fernando Guimarães, in A mão ao assinar este papel, Assírio & Alvim, 1990 - Gato Maltês)


A MÃO QUE ASSINOU O PAPEL...

A mão que assinou o papel destruiu uma cidade;
cinco soberanos dedos tributaram a respiração,
de mortos duplicaram o mundo, a meio cortaram um país:
estes cinco reis provocaram a morte de um rei.

A poderosa mão conduz a um ombro descaído;
sofrem de cãibras as junturas dos dedos engessados.
Uma pena de pato pôs fim ao morticínio
que tinha posto fim às negociações.

A mão que assinou o tratado engendrou febre,
e aumentou a fome, e vieram gafanhotos:
grande é a mão que sobre todos impera
com o gatafunho de um nome.

Os cinco reis contam os mortos, mas não acalmam
a crosta das f'ridas nem a fronte afagam.
Há mãos que regem a piedade, outras o céu:
só não as há que vertam lágrimas.

(tradução de David Mourão-Ferreira, in Vozes da Poesia Europeia - III / Colóquio Letras número 165 - Setembro-Dezembro 2003)