PIER PAOLO PASOLINI
AOS ESTUDANTES
GREGOS, DE REPENTE
Recordem-se, jovens vivos (não falo
aos mortos) que é jovem também
o tempo para vós. Aqui olham-vos
como velhos, os que têm a vossa consciência
e também a vossa idade. Um dia, 
que para estes vossos irmãos é hoje, 
sabereis também vós que o pior inimigo 
que vos fere e vos mata é melhor
do que os que mandam neste cinzento 
dia do futuro. Os Fascistas não tocam 
a alma. Eu sei que no meu país 
por vinte anos o tentaram: mas rapazes
e homens ficaram iguais aos de todos os séculos. 
Matai-os, metei-os na prisão como 
fazem eles. São poucos. Secam 
e tornam a crescer como a grama.
O povo era o trigo que não morre. 
Agora começa a morrer. Alguém 
lhe tocou a sua alma. Rapazes e homens 
vivem, selvagens, como num sonho.
São como loucos, não conhecem piedade, 
giram, o rosto branco como renegados 
por um pouco de riqueza e liberdade 
que talvez quisessem mas que não ganharam.
Deram-lha, não de boa mente,
os velhos Antifascistas que são os autênticos Fascistas...
que são os líderes, da Aculturação e não só
tocam as almas mas também as sugam no Centro
como vampiros, deixando os corpos cobertos de sombra 
e tísica branca, megeras com grandes cabeleiras de merda 
com mais nenhum outro amor do que o do Motor, 
porque não? que fazer do Sexo em liberdade?
… … … … … … … … … … … … … …
Amadurece nos campos, entre as pedras, o trigo 
com o silêncio e o canto das cigarras: 
é ali que nascem os filhos obedientes, os soldados 
e os heróis como os de entre vós que estão mortos.
(in Pasolini, Poeta, [tradução,] apresentação e selecção de
Manuel Simões, Plátano editora, 1978 – Sagitário Especial)
 
