Mostrar mensagens com a etiqueta viagens. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta viagens. Mostrar todas as mensagens

27.7.08

[Tomar, Convento de Cristo - 26/07/2008]


FIRMINO MENDES

TOMAR


Com o livro da pedra oculta, visito as linhas do templo.
Saúdo a espiral da ascensão e paro o pensamento, junto
dos que esperam a redenção dos tempos. A tranquilidade
atravessa a aragem do Convento e, obscura, entra no coração.

Alguém diz que esta fonte tem água de mil anos ou que a voz
permanece para além da janela e do jardim. o ar aquece.
Ao lado da lanterna apagada, passa a utopia, o fogo de Hermes.

(de A Terra e os Dias, Pedra Formosa, 2000)

8.2.04

No fim de semana passado estive no Porto. Fui à antiga Cadeia da Relação, que agora é a sede do Centro Português de Fotografia. Foi a primeira vez que lá fui e foi uma desilusão. Um espaço tão magnífico para um conteúdo tão mal aproveitado. Valeu sobretudo pela cela onde esteve preso Camilo: uma vista de luxo sobre a cidade.

Fui também a Serralves: exposições interessantes, mas nada de realmente relevante, a não ser o facto curioso de junto à cadeira de todos (mas de todos mesmo!) os vigilantes estar um livro da respectiva leitura pessoal. Em Lisboa não vejo nada disso.
(será que o Alexandre poderá pontuar esta leitura pública?)

3.12.03

Cheguei ontem de Valência, onde estive a participar num encontro inter-religioso de escuteiros.
Foi muito bom.
O facto de termos estado 115 pessoas de várias religiões a debater assuntos que interessam a todos resultou, penso eu, devido ao facto de todos sermos escuteiros. Ou seja: há uma realidade comum, de grande importância, que relativiza questões que nos poderiam afastar ou criar conflito ninguém tentou converter ninguém nem ninguém disse como os outros se deveriam comportar.

Prefiro criar amigos do que criar consensos.

11.11.03

[contributo açoriano para o blog Tabaco só ao balcão]

Numa rocha nas piscinas naturais dos Biscoitos, a amarelo:

Banhos de mar fazem bem à saúde

10.11.03

Cheguei ontem da Ilha Terceira. Foi a minha primeira incursão pelos Açores: três dias de espanto perante a beleza de uma ilha que me garantem ser das mais feias do arquipélago e que nesta altura do ano não é grande coisa...

***

Constato, nesta viagem que, sem o ter feito de propósito, nestes últimos meses visitei: Madrid, a terra da alegria de Ruy Belo e também a sua querida Praia da Consolação; o Porto, tão caro e tão vivido por Jorge de Sena e, agora a terra onde Vitorino Nemésio nasceu, cresceu e chegou a escrever os primeiros versos, Vila Praia da Vitória.

25.8.03

No fim de uma das jornadas do Caminho de Santiago vi que me tinham enviado um SMS a dizer que tinha morrido Sérgio Vieira de Mello.
Duas coisas me ocorreram:
a maneira como um amigo meu timorense se referia a ele apenas como "o Sérgio", ainda antes de o conhecer pessoalmente;
o comentário de um brasileiro que conheci no albergue da juventude de Madrid: "deve ser a única pessoa que dá ao mundo uma imagem civilizada do nosso país".
Isso, e o facto, já referido por muitos, de a sua imagem e postura, naturalmente, transmitirem serenidade, confiança e alegria.

22.8.03

[em Santiago de Compostela]

Cheguei ontem de uma caminhada de seis dias, a pé (cerca de 110 km desde Valença do Minho).

Caminhar purifica. As dores nos pés dao outro sentido à vida.
Peregrinar é a melhor metáfora para a vida.

É-se feliz quando se consegue chegar ao próximo passo.

12.8.03

[de uma exposição que vi em Barcelona - uma reflexão que pode ser útil ao ‘metabloguismo’ e não só - tradução minha]

DEPOIS DA NOTÍCIA - documentários pós-media

As novas práticas documentais deixaram de ser património do informador profissional.
Estão representadas por artistas, cineastas, ficcionistas, antropólogos visuais, etnógrafos amadores e cidadãos anónimos que põem em circulação as suas próprias imagens. Diversamente do que ocorre nos meios de comunicação dominantes, estes documentários sobrepõem-se ao momento da informação e de debate. Constituem uma intervenção na realidade, um novo activismo da representação.

Esta é a época em que o acontecimento já não significa a resolução de um problema, mas a abertura de novas possibilidades.
Séries fotográficas, vídeos, arquivos audiovisuais, interactivos, Internet e televisão, assim como a literatura, os itinerários urbanos e os webloggers, ampliam o espectro das práticas documentais e, além disso, contribuem para que se avance para lá da versão fechada que a notícia dá do acontecimento.

“Depois da notícia”, depois do acontecimento e da imagem mais mediática, pode haver outras formas de cobertura.

(do guião da exposição Després de la notícia / Después de la noticia / After the news - Centro de Cultura Contemporánea de Barcelona - 24/07 a 02/11 de 2003)

9.8.03

[em Madrid]

Fez ontem 25 anos que morreu Ruy Belo.
Também em 1978 morreram Vitorino Nemésio e Jorge de Sena.

Na minha terra os poetas morrem de nao lhes parar o coraçao

8.8.03

[em Barcelona, ainda]

Nestes dias aqui a poesia que mais me tem ocorrido é a de Ângelo de Lima. Parece-me que isso se deve â leitura e escuta permanente da língua catala, que faz tangentes (e secantes...) ao francês, ao italiano, ao castelhano e parece-me que também ao basco e eventualmente ao árabe, numa confusa sugestao babélica.

Mas creio que também Miró e Gaudí sao responsáveis por esta ocorrência em mim do habitante de Rilhafoles. Considerando, claro, as diferenças:
a arquitectura é sobretudo a arte de ocupar o espaço, de estar presente;
a pintura ensina a voar, a pairar, a flutuar sem espaço;
a poesia é, como lembra Luiza Neto Jorge, aprender a cair - perder o espaço.

(E quando as três se juntam?)

7.8.03

[em Barcelona]

Gostava de andar como o Caetano, sem lenço nem documento.

Mas preciso de lenço para limpar o suor, e do documento para provar que nao sou um marroquino ilegal.
[em Barcelona]

Hoje foi: La Pedrera (Casa-Museu Gaudí) - Fundació Tapiés - Centro de Cultura Contemporânea - Museu Nacional de Arte Contemporânea.

Ver tanto museu duma vez só confunde muito. Mas é uma confusao fértil.

6.8.03

[em Barcelona]

Vi uma exposiçao temporária, no Museu Nacional de Arte da Catalunha, dedicada à arte oriental das colecçoes reais de Espanha.
Contra a ideia que se tem de que os espanhóis sao sempre injustos com os portugueses, há inúmeras referências a Portugal. Antes de mais, grande parte das peças ostenta a designaçao de 'Arte Indo-Portuguesa'.
Depois, fica-se a saber que: se o rei nao fosse o mesmo em ambos os países, Espanha nunca teria conquistado as Filipinas; os produtos (incluindo obras de arte e peças litúrgicas) oriundos do Japao, da Índia e da China, chegavam a Madrid passando por Lisboa; quem popularizou o (agora) tradicional 'abanico' em Espanha foi a mulher de Filipe II (I de Portugal), Maria, a portuguesa.

Já agora: as reais colecçoes, pelos vistos apenas têm um biombo de arte Nambam, que só tem figuras de japoneses, enquanto que em Portugal temos uns poucos, com os famosos narizes compridos.
[em Barcelona]

No Museu de Arqueologia, numa parte dedicada à Cultura Púnica (séc. III/IV a. C.), vejo umas pequenas figuras de barro com os braços abertos que parecem Cristos, icrivelmente parecidas com as esculturas de Rosa Ramalho.
[em Barcelona]

Quase peregrinaçao, monte acima, para ver museus.

Há uma zona de Barcelona, parecida com algumas de Sintra, que tem muitos museus. Sobe-se, visita-se o Museu de Arqueologia, depois o de Etnologia, depois o Museu Nacional de Arte da Catalunha, por fim, a Fundació Juan Miró, que se fica a perceber muito melhor depois de ver os outros.

4.8.03

[em Madrid]

Fui ontem ao Prado e ao Rainha Sofía.
As Metamorfoses de Jorge de Sena marcaram este dia: primeiro, a impressao de ver os Fuzilados do 3 de Maio de Goya, que eu só conhecia de fotografias e que ganha outra dimensao ali ao pé; depois, no caminho até ao Rainha Sofía, parei num mercado de rua de livros e a primeira coisa com que me deparo é um monte de revistas National Geographic e no cimo de tudo o número de Fevereiro de 1974 que contém a fotografia de um velho do Bornéo a dançar e que motivou a Sena uma belíssima metamorfose que dedicou a Ruy Cinnatti - andava atrás deste exemplar, por tudo o que é alfarrabista em Lisboa, desde que li pela primeira vez as Metamorfoses, há uns dez anos atrás.

Além de tudo isso é indescritível a sensaçao de ver tanta obra de arte num só dia.