5.10.03

JOÃO MANUEL BRETES

No dia da morte de J. B. P. (1914-2000)


Nem hoje ninguém ainda se assombra
ou quase ninguém se assombra
com essa voz volátil e com o vocábulo
escasso, indizível quase de tão singular
e cingido no meio de um largo campo
de palavras ou com uma só palavra
que de tanto significar fosse melodia só,
fôlego sereno para lá do Tempo
e depois caminho aberto para um bosque
afável de palavras sem pressa de serem lidas,
escutadas. Mas nesse tempo eu andava
em busca da Poesia, lendo e relendo os nomes
todos e tudo o que chamavam poesia ou poema,
o que aí cabia, e então esbarrei com o teu nome
a descompasso, José Blanc de Portugal,
e li ou ouvi algumas das palavras,
e achei que por mais que lesse outras ou outrém
ali estaria para sempre a imanência de tudo,
naquelas discretíssimas palavras.

(de Poeira, editorial Caminho, 2001)

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