8.4.04

PIERRE JOUNEL

Da Ceia do Senhor à Eucaristia da Igreja


A Eucaristia da Igreja mergulha as suas raízes na Ceia de Jesus. Ao reunirem-se para celebrar a Refeição do senhor, os cristãos comem do pão partido e bebem do cálice de vinho, depois de o sacerdote ter pronunciado, na oração de bênção, as palavras de Jesus: Tomai e comei, isto é o meu corpo. Bebei todos deste cálice: este é o meu sangue (Mt 26, 27). Fazei isto em memória de mim (Lc 22, 19).
Memorial da última Ceia, A Eucaristia deveria ser marcada pela tristeza das despedidas do Mestre e do anúncio da sua morte próxima, morte que ela antecipava em mistério: o pão e o vinho tornam-se, de facto, o corpo entregue e o sangue derramado (Lc 22, 19-20). E, no entanto, a celebração desenrola-se em clima de alegria, é "eucaristia", o que quer dizer, simultaneamente, bênção, louvor, acção de graças. É a repetição da refeição tomada por Jesus com os seus apóstolos, ao começar a sua paixão, e realiza-se à lus da Páscoa. A paixão dolorosa tornou-se aí "bem-aventurada paixão", paixão triunfal. Na véspera da sua morte, Jesus falara aos seus do vinho novo que beberia com eles no reino de seu Pai. E eis que, na tarde da ressurreição, Ele parte o pão aos dois discípulos, com quem se juntaria na estrada de Emaús (Lc 24, 30), e a seguir partilha, com os dez apóstolos reunidos na cidade, o que sobrara da refeição deles (Lc 24, 41). Algum tempo depois, dir-lhes-á, junto à margem do lago da Galileia: vinde almoçar (Jo 21, 12). Por fim, depois de se ter sentado com eles à mesma mesa, deixou-os para voltar para seu Pai (Act 1, 4).
A partir desse momento, a lembrança da refeição que antecipou o sacrifício da cruz ficou unida à das refeições tomadas com o Ressuscitado.
(...)
Morte e ressurreição, preparadas por uma inserção íntima de Deus na família humana, tal é o mistério pascal de Cristo, mistério que se perpetuará ao longo dos séculos na liturgia da Igreja.

(de A Missa Ontem e Hoje, Gráfica de Coimbra, 1988)

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