28.4.05

[outros melros XXIV]

RUY CINATTI

Uma estória

Para Maluda,
Leonor Correia de Sá,
Simão Barreto, timorense e meu irmão de sangue,
Marta Avillez
e Fausto


Tenho minhas mãos vazias
e só Deus mas pode encher
de flores selvagens, estrelas
e de um bafo de mulher.

Foram tempos de folia
abaixo do meu querer.
Tão disperso, nele havia
imagens de estarrecer.

Eram cavalos alados
de cascos de sal e espuma
e um dedo desenhando
fugas de incerta fortuna.

Era o amor de três laranjas
e uma corda ao pescoço.
O sorriso de Maria
fulgurante nos meus cílios.

Eram, repito, fantasmas
- minha estranha condição -
Mas uma estrela apontava
Rumos ao meu coração.

O que o futuro me tece
não o sei, mas adivinho
a noite que me amanhece
sem que me encontre sozinho.

- Um melro surpreendido
voando montanha acima.
A semente, menos viva,
rompendo floridas brácteas.

9/4/83

(in Colóquio / Letras n.º 75 ? Setembro de 1983)

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