9.7.05

VINICIUS DE MORAES

Soneto da intimidade

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio as vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

(de O Operário em Construção e outros poemas, selecção e prefácio de Alexandre O'Neill, publicações Dom Quixote, 1986 - originalmente incluído em Novos Poemas, 1938)

1 comentário:

Unknown disse...

A BOGAS GOSTA DISTO! <3