4.9.05

HISAKI MATSUURA

A gaiola

Vacuidade
Vazio em forma de ovo
Num casaco silêncio fora do tempo
Colecciono aí
Raros, vivos minerais
Que agradam aos adultos garotos
Um bandolim (corpo feminino sem umbigo, cordas partidas)
Um morango (com o seu cálice)
Uma pulseira (de coral, da tia hipermetrope)
Um arranha-céus (maço de cigarros, Lua)

Um hipopótamo (enorme tristeza escorregadia)
Um bombom com whisky (homicida)
- Por exemplo
A estrela do mar seca apanhada na praia
Cada vez mais pequena
Um asterisco cada vez mais pequeno
Que se perderá certamente salvo precaução a tomar
Que desaparecerá numa serapilheira como pó
Ou como um ponto luminoso sobre a página de um livro
- Ou ainda
Uma silhueta sem vida que oscila vagamente
Uma espécie de sombra fútil caída
Sobre a superfície agitada da porta de madeira que range
Sarjeta triste
Bric-á-brac de todos e de todas as cores
Sem peso
A pôr indiferentemente na ordem da crónica
Passarei o meu tempo a dispô-los
De maneira bela e agradável
Uma selha de areia sem areia
Uma borboleta sem asas mica e geada de uma manhã de Verão
Contudo na noite em que a tempestade se aproxima
Posso contentar-me
Aconchegado a um canto do pomar
Sobre a colina de trás sem vento
Nem grito de corvos olho
Os grãos de ervilhas cair
As costas ao vento
É qualquer coisa que me falta e submerge
Pode-se apenas suportar?
Gaiola portátil do "eterno"

(tradução de Adília Lopes, a partir de uma versão francesa, in Bumerangue 04)

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