3.8.06

MARTIM DE CASTRO DO RIO

Perdi-me dentro de mim como um deserto
Minha alma está metida em labirinto,
E posto em tal perigo, já me sinto
Cair noutro maior, nele encoberto.

Tenho o socorro longe, a morte perto,
Pois vivo do que temo e do que sinto,
Se alguém me quer valer não lho consinto
Por vir o que receio a ser mais certo.

Nova invenção do mal, novo tormento,
Ser cutelo da Vida a própria Vida
Ser desatino usar do pensamento:

Vingai-vos dor cruel, dor conhecida
Que o vosso pesar sei do entendimento
Que em grande dor, não há vida comprida.

(do Cancioneiro Fernandes Tomás, séc XVI, transcrito por Francisco de Sousa Neves, in Revista da Biblioteca Nacional, Julho - Dezembro de 1989)


MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim

(...)

(início do poema Dispersão, in Dispersão, 1914)

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