28.3.07

WILLIAM SHAKESPEARE

Sonnet XV


When I consider everything that grows
Holds in perfection but a little moment,
That this huge stage presenteth nought but shows
Whereon the stars in secret influence comment;
When I perceive that men as plants increase,
Cheered and check'd even by the selfsame sky,
Vaunt in their youthful sap, at height decrease,
And wear their brave state out of memory;
Then the conceit of this inconstant stay
Sets you most rich in youth before my sight,
Where wasteful Time debateth with Decay
To change your day of youth to sullied night;
And all in war with Time for love of you,
As he takes from you, I engraft you new.



Se considero quanto é fugitiva
A perfeição de tudo que prospera,
Dos astros sinto a direcção furtiva
Sobre o palco da vida, essa quimera;

Se vejo homens e plantas a medrar
Que o mesmo Céu anima e prejudica,
Enche de seiva, aumenta, faz minguar,
E a fama do que foram sacrifica,

A própria sensação desta inconstância
Me faz ver-te mais rico em juventude,
Pois quero que resistas à ganância
Do decair, que sofres amiúde;

E o Tempo a guerrear, por teu amor,
Se te consome, eu dou-te mais vigor.

(tradução de Maria do Céu Saraiva Jorge, in Os Sonetos de Shakespeare, 1962)


Se considero quanto cresce vivo,
e atinge a perfeição só por instantes;
e que este imenso palco está cativo
de ocultos astros fortes e inconstantes;

se atento que Homem como planta aumenta,
do mesmo céu domado e guarnecido,
e que da seiva juvenil que o tenta
quando é mais forte é que será esvaído;

então o conceito deste incerto estado
mais rico em juventude em mim te cria,
ao ver que o Tempo a te mudar se há dado
em noite escura esse tão claro dia.

Com o Tempo em guerra por amor de ti,
o que el' te rouba, eu te reponho aqui

(tradução de Jorge de Sena, in Poesia de 26 seculos, 1978)


Se considero tudo quanto cresce e apenas
por um fugaz momento na perfeição avulta,
e se este palco enorme não mostra mais que cenas
que os astros acompanham por influência oculta;
se vejo que igual céu anima e desanima
tanto homens como plantas que a par se desenvolvem,
juvenil seiva eleva-os e ao fim tombam de cima,
e logo da lembrança tais glórias se dissolvem;
então o conceber desta inconstante essência
te põe ante meus olhos mais rico em juventude,
enquanto o tempo pródigo se alia à decadência
para que o teu jovem dia na treva vil se mude.
Só por amor de ti, co tempo guerreando,
quanto ele te roubar te vou reenxertando.

(tradução de Vasco Graça Moura, in 50 Sonetos de Shakespeare, editorial Presença, 1987)


Se considero tudo quanto cresce
E a perfeição atinge um só momento,
Que cada cena que este palco oferece
Dos astros tem secreto assentimento;
Que cada homem medra como planta
P’lo mesmo céu amado e repelido,
Na seiva juvenil se agiganta,
E do cume declina, em breve olvido:
A ideia deste estado sempre vário
Traz-te a meus olhos, rico em juventude
Em quanto à ruína o templo perdulário
Disputa que o teu dia em noite mude:
Co’o tempo em guerra por amor de ti,
O que el’ te rouba, eu reenxerto aqui.

(tradução de Jorge Vilhena Mesquita, in Di Versos 5, Outono-Inverno de 2000-2001)


Quando penso que tudo quanto cresce
na perfeição só breve instante avulta,
que ao vasto palco só de cenas desce
lá das estrelas a influência oculta;
se vejo homens e plantas como anima
e desanima o céu e em tal pujança,
à seiva jovem, urna vez em cima,
cai o esplendor bem longe da lembrança;
a ideia então desta inconstante estada
deixa-me ver-te em glória juvenil,
e lutam tempo e queda a qual degrada
teu jovem dia numa noite vil.
Co tempo cm guerra por amor de ti,
quanto te roube eu to enxerto aqui.

(tradução de Vasco Graça Moura, in Os Sonetos de Shakespeare, 2002)

1 comentário:

Anónimo disse...

fabuloso este de shakespeare.