9.6.07

[outros melros XLVI]

IRENE LISBOA

outro dia


O melro canta,
e já quase me é indiferente...
Mas sempre é uma voz
que se distingue,
aflautada e fresca,
entre os ruídos ingratos
da manhã:
pregões de jornais,
apitos, carros...
Um vapor parte;
ouve-se aquela sua zoada
sem timbre,
soprada e grave,
falha de harmonia...
Melro, canta!
Tenho o coração murcho
e triste...

(de Um dia e Outro dia... (Diário de uma Mulher), 1936)

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