1.1.09

ANTÓNIO LEITÃO

pomba


Aguardo uma pomba pequena
que chegue manhã com o sol,

que venha beijar-me este olhar
pisado de espera e vigília:

a pomba traz lume nas asas
e o céu fica roto de paz;

sustêm-se as coisas no assombro
da rota da pomba pequena!

Poema que eu vivo na alma
corado de ser esta pomba

pequena, de lume nas asas,
que chega manhã com o sol!

(de Chuva-Cântico-Esperança, edição do Autor, 1965)

3 comentários:

manuel a. domingos disse...

esse senhor é da minha terra

Parapeito disse...

Es mesmo jeitoso a escolher os poetas e o que escrevem...este nao conhecia...gostei
:)
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ruialme disse...

Exacto, Manuel. Um belíssimo poeta. Foi um dos mais novos autores q Natália Correia inseriu, em 1965, na Antologia de Poesia Erótica e Satírica. Acho q é interessante transcrever a apresentação dele nessa antologia, pois realça isso de ele ser da tua terra (negritos meus):

«Nasceu em Manteigas em 1932. Em 1956 concluiu o curso teológico no seminário do Patriarcado de Lisboa. Foi um dos organizadores da página literária «Parábola» do Jornal de Almada. Publicou dois livros de poemas: Esta Voz que Anda Comigo (1959) e Chuva-Cântico-Esperança (1965).
A origem serrana e a formação religiosa são os dois pólos que marcam as suas tendências literárias, que o poeta deseja inseridas numa linha de neo-romantismo, onde possa vazar a sua dureza de serrano, bebida no leite natal, e o seu quase misticismo disciplinado à orientação espiritual e filosófica que o marcou visivelmente. A par disto, ou dentro disto, António Leitão revela um certo pendor socialista. Nele se patenteia, ainda, a luta entre a crença num Deus perfeito em sua essência e o deus imperfeito que o poeta vive.
Por apetência idealista, querendo intervir num mundo cuja irregularidade provém da carência de amor, simbolizada na frustração erótica das personagens que nele se movem, esta sua crença numa estrutura social melhorada, traduz-se, por vezes, numa ironia ácida onde mal chega a disfarçar o pranto que pudicamente converte em sarcasmo.»

Depois disto, publicou, até 1999, mais 5 livros e, em 2001, reuniu tematicamente os seus poemas no volume "Esta voz que anda comigo", editado pela Rei dos Livros.

Nunca estive em Manteigas, Manuel, mas pelo q me é dado conhecer daí, só pode ser uma boa terra.