3.2.09

MARINA TSVÉTAÍEVA

Nós – as crianças, somos os reis
do mundo das visões nocturnas.
Caem sobre nós as alongadas sombras
brilham as lanternas por detrás das janelas,
escurece o tecto do salão,
os espelhos absorvem o seu rasto…
Não há tempo a perder!
Alguém sai do seu canto.
Debruçamo-nos os dois por cima do piano negro
e o medo chega-se a nós,
embrulhados num xaile da mamã
nem respiramos, pálidos de terror.
Vamos lá ver o que se passa
por baixo da cortina das trevas inimigas.
Os rostos deles fundiram-se no escuro,
– de novo saímos vencedores!
Somos os elos de uma mágica cadeia
e no fragor da batalha jamais desfalecemos.
Aproxima-se o combate derradeiro,
e com ele há-de perecer o reino das trevas.
Os adultos inspiram-nos desprezo,
pela rotina adormecida dos seus dias…
Nós sabemos, sabemos muita coisa
do muito que eles não sabem.

(in E cantou como canta a tempestade, selecção de Inês de Medeiros, tradução de António Mega Ferreira, Assírio & Alvim, 2007 – Gato Maltês)

1 comentário:

Anónimo disse...

a saudável esquizofrenia que habita as pequenas cabeças - inúmeros pensamentos vagantes.