9.9.09

JOSÉ BLANC DE PORTUGAL

IX.9
FILIORUMQUE


Eles cantam e tocam nas suas violas
Eles rasgam os seus corações
Não os seus vestidos
Como disse o Senhor ao seu Profeta
Que fizessem e o lembram
Aos cristãos na Quarta de Cinzas...

Nós seguimos inanes caranguejolas
Disfarçando muito bem os tropeções
Com o falso cismar dos distraídos
E fumaça de falsas mofetas
E falso lembrar de se quebrarem
P'ra sempre as urnas doutras cinzas
Pó dos tempos a esconder-me o tempo.

Eles cantam e tocam as suas violas...
Rasgai os corações e não vossos vestidos
Disse o Profeta do Senhor. . .
Eles não tocam para os já vencidos
Eles não cantam para os sem-amor.

Tanto quanto os há na terra, deuses é que eles são…
Tocam e cantam e assim vão criando
Mundos que não são nada ilusões
Mundos em que o som outros sons cria
Em que essa união constante
É a ponte única que liga
Aqui e o lugar distante
Onde pode ser que ainda exista

O que me fez escrever sem que razão
Aparente p'ra fazê-lo subsista...
Bem sei que não são versos para ouvidos finos
Bem sei; mas eu, sinceramente, meus meninos,
Não creio que o sejam — finos os ouvidos, quero eu dizer… –
Pois se o fossem
Era p'ra eles que serviam estes versos. . .

8/9.2.67

(de Enéadas – 9 Novenas, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1989 – Biblioteca de Autores Portugueses)

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