2.4.10

LOPES MORGADO


ÀS TRÊS DA TARDE

Mateus 27,51-54; Marcos 15,33-41


O véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo.
- E eu continuo com áreas interditas ou reservadas,
preso ao passado, ao culto antigo e ao mistério.

A terra tremeu e as rochas fenderam-se.
- E eu, empedernido, imperturbável,
indiferente, insensível aos sinais da natureza.

Os túmulos abriram-se, e muitos santos saíram vivos.
- E eu, nem rebento com a lousa do meu túmulo caiado,
nem saio a proclamar a ressurreição com a vida.

O centurião e os guardas disseram-no Filho de Deus.
- E eu, dois mil anos depois, continuo relutante,
querendo mantê-lo no limite de um homem apenas bom.

Muitas mulheres, que O seguiram, observavam de longe.
- E eu, além de O não seguir como discípulo,
afasto-me para longe donde não possa ver nem crer.

A natureza fez luto de trevas do meio-dia às três.
- E eu, nem à noite me dispo do meu respeito humano
para falar com Ele, como fez o mestre Nicodemos.

Às três da tarde, Jesus gritou como crente em angústia.
- E eu, nem então me aproximo sem este nó na garganta,
ao menos para agradecer o feriado de Sexta-feira Santa.
Fátima, 02.02.2004
(de em minha memória, Difusora Bíblica, 2004)

Sem comentários: