30.4.10

MANUEL GUSMÃO


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A mão do poema folheia a minha vida procurando
o sítio onde algo se passou, o sobressalto que ainda
hoje te mantém suspenso, indeciso sobre quem vive

na tua vida? Não eu esta mão guio; quem a guia então
se é ela quem me guia? Que podem os versos saber
desse sítio que o papel não chega para estancar.

O sítio retrai-se quando a mão se aproxima e contudo
é uma figura do medo que nele pulsa e se projecta
por cada vinco e dobra do teu corpo desconhecido.

O poema troca de mão e insiste que o que procura
é o sítio onde por duas vezes olhaste a tua morte

e não era a mesma


(de A Terceira Mão, editorial Caminho, 2007 - o campo da palavra)

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