14.12.11


ERICH FRIED


POEMA MILITANTE

Lembro-me
da minha cólera
e da minha procura
das palavras exactas
para a minha cólera
da última correcção
antes de passar a limpo
da leitura em voz alta só para mim
e por fim da minha
satisfação
que veio pôr termo à minha cólera

E permito-me esquecer
como em vão tacteei
para agarrar as folhas brancas
e tive medo
porque os meus dedos
estão a tornar-se mais desajeitados
e porque o papel químico
me caiu ao chão
antes de passar a limpo
e fiquei tonto
quando o apanhei


PERGUNTAS DE UM POETA MILITANTE

De quanto tempo precisarão vocês
para deixarem
de se indignar
com o que eu digo?

E nessa altura ainda cá estarei
para o dizer?
E será útil ainda
que se diga?

Não será então demasiado incompreensível
ou demasiado evidente?
E não repetirei então como uma gralha:
«Foi o que eu sempre disse?»


(de 100 Poemas sem Pátria, tradução deste poema de João Barrento, publicações Dom Quixote, 1979 - Poesia Século XX)

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