ERICH FRIED
POEMA MILITANTE
Lembro-me
da minha cólera
e da minha procura
das palavras exactas
para a minha cólera
da última correcção
antes de passar a
limpo
da leitura em voz
alta só para mim
e por fim da minha
satisfação
que veio pôr termo à
minha cólera
E permito-me
esquecer 
como em vão tacteei 
para agarrar as
folhas brancas 
e tive medo 
porque os meus dedos
estão a tornar-se
mais desajeitados 
e porque o papel
químico 
me caiu ao chão 
antes de passar a
limpo 
e fiquei tonto 
quando o apanhei
PERGUNTAS DE UM
POETA MILITANTE
De quanto tempo
precisarão vocês 
para deixarem 
de se indignar 
com o que eu digo?
E nessa altura ainda
cá estarei 
para o dizer? 
E será útil ainda 
que se diga?
Não será então
demasiado incompreensível 
ou demasiado
evidente? 
E não repetirei
então como uma gralha: 
«Foi o que eu sempre
disse?»
(de 100 Poemas sem
Pátria, tradução deste poema de João Barrento, publicações Dom Quixote,
1979 - Poesia Século XX)
 
 
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