18.12.11


WILLIAM SHAKESPEARE


Sonnet CXXI

‘Tis better to be vile than vile esteemed,
When not to be receives reproach of being,
And the just pleasure lost which is so deemed
Not by our feeling, but by others’ seeing:
For why should others’ false adulterate eyes
Give salutation to my sportive blood?
Or on my frailties why are frailer spies,
Which in their wills count bad what I think good?
No, I am that I am, and they that level
At my abuses, reckon up their own,
I may be straight, though they themselves be bevel;
By their rank thoughts my deeds must not be shown
     Unless this general evil they maintain,
     All men are bad, and in their badness reign.


CXXI

Antes quero ser vil que mal julgado,
Se, não o sendo, sofro igual censura;
Nunca colhe proveito o difamado,
Senão aos olhos de outra criatura.

E por que insistem olhos tão maldosos
Em afectar este meu sangue ardente?
Não são espiões bem mais pecaminosos
Os que acham mau quanto eu julgo inocente?

Que o achem. Eu sou eu, e em seu conceito,
P'ra mim transferem o seu próprio nível:
Oblíquos podem estar, e eu direito,
Seu mau juízo é, pois, inadmissível,

A menos que esta lei vão implantar:
Ninguém é bom, e o mal há-de reinar.


(tradução de Maria do Céu Saraiva Jorge, in Os Sonetos de Shakespeare, 1962)


SONETO CXXI

Antes ser vil que como vil ser tido,
quando o não ser de ser é suspeitado,
pois que o prazer se perde, imaginado
nos olhos doutrem, não por nós sentido.

Porque há-de dar dos outros o olhar falso
leis a meu sangue, se el' se goza assim?
Porque mais frágeis me andarão no encalço,
a condenar o que me praz a mim?

Ah não, eu sou quem sou. Quem me condena
por meus pecados, pelos seus me acusa:
posso mais recto ser que quanto ordena:
que os feitos meus não valham mente escusa.

Que a menos que se mude tanto mal,
homem não há livre de império tal.


(tradução de Jorge de Sena, in Poesia de 26 séculos, 1978)


CXXI

Bem melhor é ser vil do que por vil havido
quando a quem o não é o sê-lo se censura,
e vemos, como vil, justo prazer perdido
só porque o olhar dos mais — não nós — o desfigura.
Porque há-de agora o falso e turvo olhar alheio
cuidar da salvação deste meu sangue ardente?
E espiar-me as fraquezas quem delas é mais cheio
e teima em dizer mau o que eu julgo excelente?
Pois eu sou o que sou; e eles que denunciam
meus erros, vêem os seus e nisso são exactos.
Sou recto e eles oblíquos; ser nunca poderiam
seus baixos pensamentos medida dos meus actos,
     a menos que mantenham esta geral maldade
     e os homens todos nela governem à vontade.


(tradução de Vasco Graça Moura, in 50 Sonetos de Shakespeare, editorial Presença, 1987)


SONETO CXXI

Mais vale sermos vis que por vis tidos
Quando o não ser do ser leva a censura
E somos do prazer destituídos
P’la imagem que é dos outros, falsa e dura.
Pois como podem outros vir julgar,
De olhos impuros, os que a amor se rendem?
Os meus pecados quem vem espiar,
Incastos que o que é bom por mau entendem?
Não, eu sou o que sou, e os que falam
De abusos meus os próprios denunciam;
Sou vertical lá onde outros abalam.
Juízos tais meus actos desvaliam,
     A menos que a geral maldade eles defendam:
     Os homens são todos maus, e em sendo maus governam.


(tradução de Jorge Miguel Bastos da Silva, in Op. Cit., N.º 3, Associação Portuguesa de Estudos Anglo-Americanos, 2000)


121

Antes ser vil do que por vil havido
Quando o não ser de sê-lo é censurado
E o são prazer se perde, envilecido,
P'lo que sentimos não, no olhar sesgado.
Por que há-de um outro falso olhar venal
Cumpliciar com o meu sangue ardente?
Ou na fraqueza, espião que menos vale,
Turvar, maldoso, o bem da minha mente?
Eu sou quem sou, e esses que me arquivam
Os erros os seus próprios apuram.
Seja eu recto, que de través vivam,
Seus pensares vis meus actos não figuram –
     A menos que este mal seja verdade:
     Ruins, os homens reinam na maldade.


(tradução de Jorge Vilhena Mesquita, in Di Versos 5, Outono-Inverno de 2000-2001)


121.

Mais val' ser vil do que por vil havido,
se a quem não é se acusa por o ser;
por vil se vê justo prazer perdido,
não que o sintamos, mas de alheio ver.
O falso olhar dos outros porque iria
dar salvação a este sangue ardente?
Ou espiar meus fracos fraco espia
que julga mau o que eu julgo excelente?
Não, eu sou o que sou, se denunciam
meus erros, vêem seus próprios desacatos.
Eu recto, eles oblíquos, nem podiam
seus pensamentos vis medir-me os actos,
     a menos que esse mal fique de vez
     e, todos maus, governe a malvadez.


(tradução de Vasco Graça Moura, in Os Sonetos de Shakespeare, 2002)


Soneto 121

Antes ser vil do que vil ser considerado
Quando, mesmo sem sê-lo, esta culpa te imputam
E então perdes um prazer verdadeiro, dado
Que tua alma não, mas os demais condenam.
Então, por que os olhos espúrios dos outros
Hão de julgar meu sangue quente?
Ou espiar minhas fraquezas os mais frouxos
E considerar ruim o que considero um presente?
Não, eu sou o que eu sou; e os preocupados
Com meus desmandos, eles próprios se expõem:
Eu sou franco enquanto eles são dissimulados,
E que seus juízos podres não sujem minhas ações.
A não ser que esta máxima eles mantenham:
Todos os homens são maus e na maldade reinam.


(tradução de Caio Túlio Costa, encontrada aqui)


SONETO 121

Melhor ser mesmo vil que ter a fama.
Se igual censura atinge Ser, Não-ser;
E perder-se o prazer, pois que o difama
Não nosso senso: o alheio parecer.
Por que aos adúlteros olhares calha
De assinalar meu sangue dissoluto?
Por que os mais falhos olham minhas falhas
E dizem mau o que eu tão bem reputo?
Oh, não! Sou como sou, todos aqueles
Que olham meus erros, neles se refletem;
Posso eu ser reto e oblíquos serão eles,
E quando eu faça, a eles não compete.
     Exceto se este mal dão por verdade:
     Que o Homem é mau e reina na maldade.


(tradução de Jorge Wanderley, in William Shakespeare: Sonetos, 1991 – encontrada aqui)

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