17.5.12


[outros melros LXIV] 


ANTÓNIO DE MACEDO PAPANÇA, CONDE DE MONSARAZ


A CALMA

O sol caustica a prumo a rústica devesa!
Exala-se da terra um bafo ardente; o gado,
Sedento, mal resfolga à sombra do montado,
Nas fulvas crispações dessa fornalha acesa.

Canta, refresca o ouvido a água na represa
Da azenha e ao longe a voz dum melro fatigado
Quebra, de quando em quando, o silêncio pesado
Da sesta, que adormenta em roda a natureza -

Arquejam, bico aberto, as galinhas e os patos;
E eu que, a escorrer suor, abro os olhos a custo,
Esperguiço-me, acordo, e artista como um grego,

O meu olhar pagão vê, através dos matos,
Mover-se o corpo nu, elástico, robusto,
Dum filho do moleiro a chapinhar no pego.


(de Musa Alentejana, 1908)

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