24.11.13

DANIEL JONAS


IMITAÇÃO DE VIDA

A minha vida...
Conquanto a minha vida seja
uma repetição da minha vida,
conquanto imitação da minha
a minha vida
conquanto minha nem pareça
e não, e seja muito e muito mais
do que a queria,
conquanto vivo me experimente enquanto morto
e enquanto morto a mim me sobreviva
a vida não é mais do que perdê-la
e tanto que a perdi pois
me acho num lugar
por insistente inexistente
passando inversamente nos lugares muito mais
da minha insistência em pensá-los...
Prossigo, pois, é mister que assim prossiga,
mas não trago um carinho por mim mesmo,
antes arrasto o móvel por que me tenho
(que peso, meu Deus, de sê-lo)
conquanto imóvel me detenha
e imóvel me seja o que sou
e tanto do que pense ou faça.
Sou tanto aquilo que não pensei de mim...
Sou tanto aquilo que não sou ou não quis
e tanto por tentar...
Sim... as coisas que eram e não foram...
O que mais ardentemente desejei e não cumpri.
As ondas que se foram para nunca mais...
Oh delírio!
A minha cabeça que anda tão perdida...



(de Passageiro Frequente, Língua Morta, 2013)

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