20.7.14



LEOPOLDO MARÍA PANERO


TRÊS HISTÓRIAS DA VIDA REAL

I. A CHEGADA DO IMPOSTOR FINGINDO SER LEOPOLDO MARÍA PANERO

Ao amanhecer, quando as mulheres comiam morangos crus, alguém chamou da minha porta dizendo chamar-se Leopoldo María Panero. No entanto, a sua falta de convicção para desempenhar o papel, os seus abundantes silêncios, os seus equívocos ao recordar frases célebres, o seu embaraço quando o obriguei a recitar Pound e, finalmente, a pouca graciosidade das suas graças, convenceram-me de que se tratava de um impostor. De imediato, fiz vir os soldados: ao amanhecer do dia seguinte, quando os homens comiam peixe congelado, e na presença de todo o regimento, foram-lhes arrancados os galões, o fecho de correr, e deitado ao lixo o seu batom, para ser fuzilado logo de seguida. Assim acabou o homem que fingiu ser Leopoldo María Panero.

II. O HOMEM QUE ACREDITAVA SER LEOPOLDO MARÍA PANERO

Chovia e chovia sobre a casa de De Kooning, célebre pelas suas aparições. Ali, o filho mais novo de De Kooning, levantou-se nervoso da cama, vestiu um roupão e foi para o quarto do seu pai para lhe dizer que era Leopoldo María Panero. Enquanto se demorava a enfatizar o seu desgosto pelo filme Chávarri El Desencanto, não teve outra alternativa senão chamar um psiquiatra. Já no manicómio, persistiu no seu delírio, imaginava cenas de infância, ruas de Astorga, sinos, a pancada do meu pai. Depois de um rápido electrochoque, passou a acreditar ser Eduardo Haro, uma pequena variante da primeira figura. De imediato começou a coxear e a tossir e então afirmou ser Vicente Aleixandre. Enquanto isso, na casa do De Kooning, por entre o ruído de correntes, continuam a multiplicar-se as aparições.

III. O HOMEM QUE MATOU LEOPOLDO MARÍA PANERO (THE MAN WHO SHOT LEOPOLDO MARÍA PANERO)

O meu querido amigo Javier Barquín sempre irá acreditar que foi ele quem matou Leopoldo María Panero. Mas isso não é verdade. Ninguém nesse tempo tinha coragem para o fazer. O sujeito tinha aterrorizado a cidade inteira. Tinha raptado várias mulheres e ameaçara torturá-las. Por isso nessa tarde tomei a decisão, fui à espingardaria do Jim e comprei um revólver calibre 45. No momento em que Leopoldo María Panero tentava mais uma vez extorquir Javier Barquín, disparei de longe. Como Javier também tinha sacado de uma pequena pistola, supôs ter sido ele a fazer justiça. Toda a sua vida irá acreditar que foi ele que matou Leopoldo María Panero. Mas não foi assim. Eu sou o homem que matou Leopoldo María Panero.


(tradução minha – original in Estaciones, 2 otoño-invierno, 1980-81 / reproduzido in Poesia Completa 1970-2000, edic. de Túa Blesa, Visor Libros, 2004)

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