ALBANO MARTINS
(excerto de «Raul de Carvalho e a Poesia da Autenticidade», in As Letras e as Tintas, edições Quasi, 2006)
PAULO DA COSTA DOMINGOS
(excerto de Narrativa, Frenesi, 2009)
Raul de Carvalho, o poeta português de que hoje
 aqui nos ocupamos, viveu, pode dizer-se, em risco permanente. Risco 
físico: uma aparente robustez disfarçava a doença - as doenças, várias, 
cedo manifestadas - que progressiva e inexoravelmente lhe corroeu o 
corpo e a que acabou por sucumbir, em 3 de Setembro de 1984, num 
hospital do Porto. Risco existencial: «filho de sapateiro
 bêbado», como de si um dia deixou escrito, do pai herdou a propensão, 
que nele era evidente, para «tudo discutir», o temperamento arrebatado e
 o «orgulho» que o manteve em rigoroso e diário conflito consigo e com 
os outros.
Do poeta diremos que ele é o retrato do homem, e nesta afirmação a melhor e mais justa homenagem que podemos prestar-lhe.
Do poeta diremos que ele é o retrato do homem, e nesta afirmação a melhor e mais justa homenagem que podemos prestar-lhe.
(excerto de «Raul de Carvalho e a Poesia da Autenticidade», in As Letras e as Tintas, edições Quasi, 2006)
PAULO DA COSTA DOMINGOS
Vivi, pois, durante uma época, ainda 
que muito brevemente, numa casa cujas janelas me inclinavam para as 
traseiras de um poeta: Raul de Carvalho. Cantava; ouvia-se-lo cantarolar
 sobre quintais e saguões, à luz de ouro no Outono lisboeta. E ia pondo a
 sua roupa lavada no estendal, na alegria doce de quem vive, não 
sozinho: na companhia de versos em louvor dos nadas do dia-a-dia. E o 
seu vidro saía cortado à medida da sua casa. Algo de que nunca eu me 
cansei, repetindo, repetindo iguais gestos, decerto, na minha própria 
construção. Ler, não chega; há que ver e ouvir pela abertura do coração,
 comovidamente. 
(excerto de Narrativa, Frenesi, 2009)
 
 
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