1.11.03

TRÊS POETAS IMAGISTAS


EZRA POUND

uma rapariga


A árvore entrou nas minhas mãos,
A seiva subiu pelos meus braços,
A árvore cresceu dentro do meu peito -
Para baixo,
Os ramos cresceram para fora de mim, como braços.

Tu és árvore,
Tu és musgo,
Tu és violetas com vento sobre elas.
Tu és uma criança - tão alta -
E tudo isto, para o mundo, é disparate.


D. H. LAWRENCE

amigos íntimos


Não te importas com o meu amor? - disse-me ela asperamente.

Entreguei-lhe o espelho e disse:
Dirige, por favor, essas perguntas à pessoa indicada!
Faz as tuas consultas ao quartel-general!
Em todos os assuntos de importância emocional
Contacta directamente com a suprema autoridade! -
- E entreguei-lhe o espelho.

Ela devia tê-lo partido na minha cabeça
mas recebeu dele a sua própria imagem
e manteve-se suspensa dois segundos
enquanto eu fugia.


H. D.

A tua cabeça
está coroada de murta,
está coroada de louro,
está coroada com uma rosa
encarnada;
Deus sabe
(sendo Deus)
porque estás tu aqui connosco,
porque brincas e traficas
porque jogas
tu connosco;
se ganhas
se perdes,
tu importas-te?

um laço é o Amor,
uma afronta,
os que ficam mutilados pelo Amor,
trôpegos, gaguejantes e idiotas,
perdidos no mundo,
difamados,
cingidos com violetas à roda dos tornozelos,
com mirra
e com mirra entre-aberta,
arrastando inesprimível doçura
e perdidos,
perdidos;
uma ruína
uma coisa circunscrita
é um coração de homem
comovido pelo vento
do êxtase imortal,
nós somos mutilados e fracos
e contudo

eu estava morta
e acordaste-me,
foste-te agora,
eu estou morta.


(in Tempo Presente, 5 - Setembro de 1959 - traduções de Fernando Guedes)

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