16.12.03

[de como num texto sobre revistas femininas, publicado numa revista de miúdos, se pode encontrar um excelente contributo para um debate sobre a sexualidade]

ADÍLIA LOPES

A minha infância acabou no dia em que a minha mãe teve uma conversa comigo sobre a menstruação. Eu tinha uns 8 anos. A minha mãe, que era bióloga, mostrou-me um dossier da "Marie Claire" em papel cor-de-rosa rugoso. Eu não sabia francês. A minha mãe guardou as páginas cor-de-rosa depois da conversa e não mas voltou a facultar. Porque será que o sexo nos faz tanto medo e tanta vergonha? José Mário Branco canta que é preciso descasar a culpa do prazer. Do prazer e da dor e, sobretudo, do corpo. porque é que o corpo e os mistérios do organismo nos nos afligem tanto? Victor Matos e Sá escreveu "...E o corpo continua por explicar". Porque é que o corpo, que é sagrado, que é templo do Espírito Santo, segundo S. Paulo, nos inspira tantas culpas? Uma coisa é sofrermos porque há um terramoto e nos caem pedras em cima, outra coisa é sermos apedrejados porque fomos condenados à morte por lapidação. Porque é que inventamos convenções sociais que causam tanto sofrimento?

(excerto do artigo Femininas Revistas, publicado na revista 365, 12 - Novembro/Dezembro de 2003 - Direcção de Fernando Alvim)

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