23.2.04

JOSÉ AFONSO

SOU DUMA VAGA PÁTRIA CARINHOSA


Sou duma vaga pátria carinhosa
A de sempre me ver filho das dunas
Molhando os pés no frio das espumas
Carpa mordaça toldo mariposa

Velho litígio rompe das entranhas
(Saí ainda novo das escolas)
Bonzo que me ensinou a ver as horas
À beira rio me contou patranhas

Eu sempre tenho dito tenho dito
Que já não se ouvem pássaros como outrora
A gaivota não vem à luz da aurora
Soltar o seu estranho e agudo grito

Tenho uma pátria póstuma de grilos
(Tu descias amor uma alameda)
Caem-me em cima cheiros de alfazema
Duas gotas de chuva nos mamilos

(incluído em Textos e Canções - org. e notas de J. H. Santos Barros, 2ª ed: Assírio & Alvim, 1988)

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