28.2.04

PEDRO TAMEN

11


Agora os montes descem vagarosamente em veredas sem limites,
para o rio, para o mar, para a cidade. E, calmos entre os tojos,
levantam-se os perfumes, os incensos, as multidões de estrelas que se acendem.
Agora desce o sangue por baixo das oferendas, agora vem
mais largo e mais possante abraço, alaga tudo.
Agora aqui, Senhor, eis o sangue do Homem, o sangue do Filho,
eis que se derrama e entra pelas ruas,
vem do monte,
desce para as caves.

E nunca mais esqueceremos o líquido, nunca mais!
Eis que se passou aos nossos braços e nos dilata os corpos,
eis que se constrói corre pelo dentro, em rio inacabável
que nunca mais bebemos, se vai esconder em nós e liga
coisas que não sabemos, sangue que nunca cabe.

(de O Sangue, a Água e o Vinho, 1958)

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