3.3.05

CESÁRIO VERDE

Como fisiologicamente os órgãos que não funcionam desaparecem evolutivamente, eu, pacato e ordeiro entre uma população bondosa e valente, perdi a única arma de fogo que levava, sem dar por isso pelos caminhos.
Ah! Quanto eu ia indisposto contra tudo e contra todos! Uma poesia minha, recente, publicada numa folha bem impressa, limpa, comemorativa de Camões, não obteve um olhar, um sorriso, um desdém, uma observação! Ninguém escreveu, ninguém falou, nem num noticiário, nem numa conversa comigo; ninguém disse bem, ninguém disse mal!

(carta dirigida ao Conde de Monsaraz, António de Macedo Papança em 29 de Agosto de 1880, transcrita na Obra Completa de Cesário Verde, organização, prefácio e notas de Joel Serrão, livros Horizonte, 1983)

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