24.6.05

NATÉRCIA FREIRE

FANTASMAS

Mesmo que vós me toqueis,
ainda assim me não contento.
Mesmo que vós me leveis...
Estão muito longe os anéis
que há nos cabelos do vento...

Para nossos bailes de fumo
não há saletas reais.
Corpos de fio de prumo,
olhos de barco sem rumo,
e ouvidos nos temporais.

Quando a casa dorme e sonha
é que os passos vem espreitar.
Da torre negra, as cegonhas,
sobre a planície que sonha,
deitam fantasmas ao mar.

Minhas claras companhias!
Ainda assim me não contento.
Há-de haver praias vazias,
melancolias bravias
como aquelas que eu invento.

Tudo em mim é fracasso
já não tem raiz humana.
Nas pontas do mesmo laço
É que o aço nos irmana.

Convosco em pó me desato
e a viagem não termina.
Parto de mim em retrato,
no movimento sem acto
que o destino me destina.

(de Poemas, 1957)

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