31.1.06

CARL SANDBURG

RÁPIDO


Viajo de rápido, num dos melhores comboios do país.
Lançados através da pradaria, da névoa azul, no ar escuro,
correm quinze carruagens com mil viajantes.
Todas estas carruagens serão, um dia, montes de ferrugem;
homens e mulheres que riem
no vagão-restaurante, nas carruagens-camas, hão-de acabar em pó.
No salão dos fumadores pergunto a um homem qual o seu destino.
«Omaha», responde.

(tradução de Alexandre O'Neill, publicado no número 4 da série de antologias Tempo de Poesia, s/d)


A. M. PIRES CABRAL

BILHETE A CARL SANDBURG


O meu comboio não é, bem sei,
o mesmo que o teu.
O meu é inoxidável.

Os passageiros sim,
são tal e qual.

E, tal como tu,
viajo acossado por perguntas
vivas como brasas.

E, tal como a ti, também a mim
um passageiro responde
quando lhe pergunto o seu destino:
Omaha.

Não há volta a dar-lhe: todos temos
Omaha por destino.

(de Que comboio é este, Teatro de Vila Real, 2005)

1 comentário:

Ruy Ventura disse...

Só eu sei quanta alegria recebi num destes dias quanto encontrei a antologia do Sandburg feita pelo O' Neill num alfarrabista de rua, em Lisboa...