19.12.08

ERNESTO GRASSI

(…) As condições biográficas do autor de uma obra de arte nada nos revelam do processo artístico da sua composição, pois que as vivências «pessoais» do poeta não são diferentes, na maioria das vezes, das que são comuns aos seus contemporâneos e próximos que não foram capazes de extrair delas um sentido universal. Embora pareça contraditório, assim é: a personalidade que através da obra de arte nos fala é, sem dúvida, a de um indivíduo que se move em determinado condicionamento histórico, mas é sobretudo a encarnação de uma força impessoal cujo fito é configurar o objectivo e universal. Daí a impressão de um estranho anonimato no qual, todavia, se patenteia algo de muito pessoal, que no projecto criador transmuta e anula o meio ambiente e tem capacidade para tanto porque as suas raízes atingem o fundo último do ser, do indizível ignoto. É decerto este o sentido das palavras de Rimbaud:

(excerto de A Arte e o Mito, tradução de Manuela Pinto dos Santos, sem data – LBL Enciclopédia)

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