19.12.08

ARTHUR RIMBAUD

(…) A inteligência universal sempre arremessou as suas ideias com naturalidade; os homens recolhiam uma parte desses frutos do cérebro: agia-se em conformidade, escreviam-se livros: tal era o sentido das coisas, o homem não se trabalhando, não estando ainda desperto ou não mergulhando na plenitude do grande sonho. Funcionários, escreventes: autor, criador, poeta, esse homem nunca existiu!
O primeiro estudo para o homem que quer ser poeta é o próprio conhecimento, por inteiro; ele procura a sua alma, inspecciona-a, experimenta-a, apreende-a. Desde que a sabe, deve cultivá-la; isso parece simples: em todo o cérebro se dá um desenvolvimento natural; tantos egoístas se proclamam autores; muitos outros atribuem-se o seu próprio progresso intelectual! – Mas do que se trata é de tornar a alma monstruosa: a exemplo dos comprachicos, pois! Imagine um homem implantando e cultivando verrugas no seu próprio rosto.
(…)

(excerto de carta a Paul Demeny, datada de 15 de Maio de 1871, in Cartas do Visionário e mais nove poemas, tradução de Ângelo Novo, Fora do Texto, 1995)

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