18.2.21

JOAN MARGARIT


POÉTICA

Alguém que mede versos e que guarda
a solidão dos ossos de Vallejo
e a longa morte de Espriu na sua alma.
Que se encomenda à sombra de Quevedo
movendo o úmero com a esferográfica
para escrever a letra de um bolero.
Se nunca ninguém ria ou chorava
com algum desses versos que me invento
onde me leva – pensaria – esta história?
Pelos filhos mortos, pelos amores sem manhã,
pelo tempo que nos ameaça como uma arma,
por tanto mal enevoado que não é notícia.
Por tudo isso se escreve poesia.


(tradução de Egito Gonçalves, in Quinze Poetas Catalães, Limiar, 1994)