27.10.07

EMILY DICKINSON

Experiência para mim
É cada qual que eu encontro.
Será que contém um Fruto?
A Imagem de uma Noz

Aparece numa Árvore,
Igualmente plausível;
Mas Miolo é requisito
Para Esquilos e p'ra Mim.



c. 1865

(in 80 Poemas de Emily Dickinson, tradução e apresentação de Jorge de Sena, edições 70, 1978)

26.10.07

JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA

A REGRA DO JOGO


Adivinham-se tempos difíceis:
obsessão apoderou-se das tribos;
uma vírgula pode ser um crime,
a ameaça esconde-se numa frase incompleta.
Os jornais encheram-se de notícias peregrinas,
os editoriais ponderam. Murmura-se
nas fileiras, a especulação prospera.
Com um salário que é como mau tecido,
depois da primeira lavagem, o funcionário público
poupa na fruta, no tabaco, no queijo. Amanhã,
de comboio, a História enfrentará o seu destino,
ou, pelo menos, uma cópia que levará tempo
(medido em lustros) a rasurar.

(de Nada Tão Importante Que Não Possa Ser Dito, Assírio & Alvim, 2007)

25.10.07

GRÉCIA ANTIGA

Niki tis Samothrakis / Vitória de Samotrácia
Paris, Museu do Louvre


MARIA ÂNGELA ALVIM


VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA


Não aqui, - além é que existes. Teu vôo
demais amplo na extensão dos olhos
de tão curto olhar,
em tempo de pausa acompanhamos.

Mito
anjo
graça
alma de dança
teu corpo era paixão na pedra.

... Param os passos,
espraia-se o mar
onde arrebatas as vestes do vento,
ó vertigem de ser e de estar!

(de Barca do Tempo (1950-1955), 1962 - in Superfície / toda poesia, Assírio & Alvim, 2002)
GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

- O que tem, compadre? - perguntou.
O coronel suspirou.
- É Outubro, compadre.

(excerto de Ninguém Escreve ao Coronel, tradução de José Colaço Barreiros, 1990)