RUTE MOTANasceu em 1980.
Publicou prosa e poesia no
DN Jovem e contos nas revistas
Periférica e
Pessoal. Tem publicado na revista on-line
Minguante e colaborou na antologia poética
Poesia no Porto Santo (P.E.N. Clube Português, 2006), com a tradução, a partir do francês, de alguns poemas de
Maram al-Masr. Mantém o blog
Esta distância que nos une.
Falam-me de náufragos
e de barcos à deriva –
e é o meu nome como uma prece.
Falam-me dos barcos e dos gritos
dos homens – e eu simulo o sono
como se deles não soubesse.
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Memorando para o presente infinitivo:
abrir janelas nas linhas contínuas como paredes
afastar-me e deixar à terra a guarda
da imperturbável hibernação dos bichos
deixar as palavras expostas
para que ardam ou gelem ou se recuperem
e só depois voltar à casa
ao desarranjo possível dos quadros.
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Esse gato ―
senhor único
do meu colo.
Patas brancas
majestosas ―
não me iludo.
Outro trono
não conhece
que não o sol.
Anoitece ―
a terra toda
submetida.
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Se a voz, pequeno segredo
se desfaz –
na voz, outros segredos
se levantam.
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Do silêncio, se é de vidro,
faço estilhaços ― e não lamento:
que reflictam gumes e lâminas
fiapos multiformes, gritos
luzes se ainda as houver.
(de
Nenhuma Palavra nos Salva,
editora Livro do Dia, 2007)