9.2.14

JOSÉ BLANC DE PORTUGAL


O que me interessa — o que julgo interessa à poesia — é a realidade total. Por isso me julgo tão científico como metafísico; por isso me sinto, sempre e a cada momento, ao mesmo tempo, em cada um dos três estados da velha e eterna lei positiva de Augusto Comte. Quem não compreender isto não compreenderá nada da minha poesia — o que não terá importância de maior—; mas também pouco entenderá de Poesia, o que é certamente um mal, o terrível mal que poderia implicar a total danação da humanidade: o não poder nunca vir a encarar o total real e o aceitar dessa contemplação e acção como a sua inultrapassável dignidade no plano do criado.


(palavras finais da «Auto-Poética (a pedido)», que precede Odes Pedestres, editora Ulisseia, 1965)