JULIO
CORTÁZAR
Sempre que chega o tempo
fresco, ou seja, a meio do Outono, passam me pela cabeça ideias de tipo
echêntríco e esótico, como por ezenplo tornar me uma andorinha para poder voar
para os paízes onde está mais calor, ou de ser formiga, para poder enfiar me
bem dentro de uma cova e comer os alimentos armazenados durante o Verão ou de
ser uma bívora como as do soológicO, onde as têm bem guardadas numa jaula de
vidro aquecida para que não fiquem duras de frio, que é o que acontece aos
pobres seres humanos, que não podem comprar roupa de tão cara questá, nem podem
aquecer se por causa da falta de querosene, carvão, lenha, petróleo, e
essencialmente por causa da falta de massa, porque quando alguém anda cheio
dela pode dar se ao luxo de entrar em qualquer tasca para beber uma boa grappa
e é ver enquanto aquece, ainda que convenha não abusar, porque do abuso vem o
víssio e do víssio a degeneração tanto do corpo como das taras moral de cada
um, e quando alguém se vem abaixo pela suspensa e fatal falta de condupta moral
em todo o sentido, já ninguém nem ninguéns o livra de acabar no mais espantoso
caixote de lixo do desprastíjio humano, e nunca lhe darão uma mão se entenderá
para o resgatar da lama inmunda na qual se rebolve, nem mais nem menos do que
se fosse um condoR que quando jovem soube correr e voar pelo cume das altas
montanias, mas que ao envelhecer caiu prabaixo como um bombardeiro em voo
picado ao qual falha o motor moral. Oxalá o que estou a escrever sirva pralgum
tomar atenção ao seu comportamento e para não sarrepender quando for demasiado
tarde e já tudo tenha ido pró badano por sua própria culpa!
CÉSAR BRUTO, O que eu gostaria de ser se não fosse o que sou (capítulo Cão de São Bernardo).
(in O
Jogo do Mundo (Rayuela), tradução de Alberto Simões, Cavalo de Ferro, 2008)