20.7.06

[em face dos últimos acontecimentos]

ISRAEL ELIRAZ

A ALDEIA

2


Amontoa-se o meio-dia
sobre as folhas carnudas

uma abelha selvagem indica-te a estrada pulverosa.

Demoras-te, examinas as costuras
que estalam sob o impulso.

O verão devasta
o outro lado do verão.

O gavião leva um rato
para o minarete da mesquita

vai uma vaca
para o seu macho.

Passa um homem a vender histórias
que não vos fazem mais novos

(tradução de Pedro Tamen, a partir da versão francesa de Colette Salem, in Poesia no Porto Santo, DRAC, 2002)

18.7.06

[outros melros XXXIX]

EUGENIO MONTALE

AO MEU GRILO


Que diria o meu grilo
disse Gina observando o melro
que debica larvas e lagartas nos vasos
de flores da varanda e suja tudo.
Mas o mais engraçado é que o grilo eras tu
enquanto foste viva e poucos o sabiam.
Tu sem olhinhos de alfinete de que tenho
um duplo, um verdadeiro insecto de celulóide
com duas bolinhas que seriam os olhos,
dois pistilos e nos olha de uma cómoda.
Que diria o grilo de então do seu sósia
e do melro? É por causa dela que aqui estou
diz Gina e enxota com a vassoura o maroto do melro.
Depois sobem-se os primeiros taipais. E é dia.

(tradução de José Manuel de Vasconcelos, in Poesia, Assírio & Alvim, 2004 - original de Diário de 71 e 72, 1973)