ANTÓNIO ARAGÃO
A VIRGEM
um avião em teus seios desocupados
um guindaste em tua boca alerta
um passo de arco-íris corre
teu pulso – dá-me teu bilhete
oh como voo teu gosto de viajar!
um motor faz entre tuas coxas
hossana! é sangue o côncavo do teu lugar
(in Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, 1965 – poema datado de 1959)
12.8.08
ANTÓNIO ARAGÃO
POEMA PRIMEIRO (fragmento inicial)
assim começo desviado asco no rosto
no avesso da noite porosa e adversa
onde me alarmo e recuso secreto
o corpo salpicado súbito de saques
a beber o vazio da sombra na concha liberta
à beira do poço e dos seios ofendidos
(no ar o gosto à pedra do teu gosto)
com tantos medos na poeira casta
e uma semelhança escapada gente
a nascer-me choro preto
(nós sem finalidade aqui cobertos de perfis
neste engano de ter um nome e um susto)
pobre de morrer meu tão pouco de pátrias
rico de espadas
coagulado de ouvidos
ou musgo dos hálitos
ameaça parida abismo
sinónimo de ficar vasto de saliva
(tua e minha saliva transfigurada de vertigens)
escuro maior
sepulcro germinal
(teu corpo lunar líquido e corrosivo
e o princípio químico das tuas mãos exactas
assim nasço corrupto de sinais e distância
por agora prurido de palavras
sono gerado extenso de fragmentos
nesta noite suspensa dos ossos matinais
(querida quero-te tanto de te querer
mansa viagem de sal aberta espuma
que sou para ti? terra dominada
vasta de ausência coberta de mim
corpo a florir o peso das cidades)
e regresso claríssimo aos confins dos objectos
apalpo o pólen e as cartilagens
e vejo o peixe na casa de quando estavas
(depressa sem tempo de gostar
ficam-me teus beijos nas arestas de viver)
somente o cadáver ocasional em torno de ser azul
fértil no bafo fechado a cimento
do espaço acusado na rede dos braços
há passos ardidos à beira dos instantes
repetem-se diâmetros no tempo
(de Poema Primeiro, 1962)
POEMA PRIMEIRO (fragmento inicial)
assim começo desviado asco no rosto
no avesso da noite porosa e adversa
onde me alarmo e recuso secreto
o corpo salpicado súbito de saques
a beber o vazio da sombra na concha liberta
à beira do poço e dos seios ofendidos
(no ar o gosto à pedra do teu gosto)
com tantos medos na poeira casta
e uma semelhança escapada gente
a nascer-me choro preto
(nós sem finalidade aqui cobertos de perfis
neste engano de ter um nome e um susto)
pobre de morrer meu tão pouco de pátrias
rico de espadas
coagulado de ouvidos
ou musgo dos hálitos
ameaça parida abismo
sinónimo de ficar vasto de saliva
(tua e minha saliva transfigurada de vertigens)
escuro maior
sepulcro germinal
(teu corpo lunar líquido e corrosivo
e o princípio químico das tuas mãos exactas
assim nasço corrupto de sinais e distância
por agora prurido de palavras
sono gerado extenso de fragmentos
nesta noite suspensa dos ossos matinais
(querida quero-te tanto de te querer
mansa viagem de sal aberta espuma
que sou para ti? terra dominada
vasta de ausência coberta de mim
corpo a florir o peso das cidades)
e regresso claríssimo aos confins dos objectos
apalpo o pólen e as cartilagens
e vejo o peixe na casa de quando estavas
(depressa sem tempo de gostar
ficam-me teus beijos nas arestas de viver)
somente o cadáver ocasional em torno de ser azul
fértil no bafo fechado a cimento
do espaço acusado na rede dos braços
há passos ardidos à beira dos instantes
repetem-se diâmetros no tempo
(de Poema Primeiro, 1962)
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