29.8.07

VASCO GRAÇA MOURA

A sua poesia é o palco das suas fragilidades?


Não. É a expressão das minhas possibilidades.

(entrevista ao Jornal de Notícias, 25 de Agosto de 2007)

28.8.07

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

OS RIOS DE UM DIA


Os rios, de tudo o que existe vivo,
vivem a vida mais definida e clara;
para os rios, viver vale se definir
e definir viver com a língua da água.
O rio corre; e assim viver para o rio
vale não só ser corrido pelo tempo:
o rio o corre; e pois com sua água,
viver vale suicidar-se, todo o tempo.

2.
Pois isso, que ele define com clareza,
o rio aceita e professa, friamente,
e se procuram lhe atar a hemorragia,
ou a vida suicídio, o rio se defende.
O que um rio do Sertão, rio interino,
prova com sua água, curta nas medidas:
ao se correr torrencial, de uma vez,
sobre leitos de hotel, de um só dia;
ao se correr torrencial, de uma vez,
sem alongar seu morrer, pouco a pouco,
sem alongá-lo, em suicídio permanente
ou no que todos, os rios duradouros:
esses rios do Sertão falam tão claro
que induz ao suicídio a pressa deles:
para fugir na morte da vida em poças
que pega quem devagar por tanta sede.

(de Educação pela pedra, 1966)
EDUARDO PRADO COELHO

Porque se move, escreve. E dos blocos desgarrados dessa escrita resultam livros que surgem como provisórias plataformas de encontro em que, como diz Eduardo Lourenço, criticado e crítico amorosamente se justificam pela «invenção mútua de existência».


(excerto de A Língua da Água, in A Mecânica dos Fluidos, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1984)

27.8.07

ALBERTO DE LACERDA


A terra tem túmulos a mais

Mas os teus olhos
Ressuscitam tudo

Tu e eu
Morreremos
De excesso de eternidade

19-5-1967


(da sequência Ariel e a Luz, in Oferenda II, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994)