9.7.05

[em face dos últimos acontecimentos, caetanear...]

Everybody knows that our cities were built to be destroyed
You get annoyed, you buy a flat, you hide behind the mat
But I know she was born to do everything wrong whith all of that

*

(O cu do mundo esse nosso sítio)
O crime estúpido, o criminoso só
Substantivo, comum
O fruto espúrio reluz
A subsombra desumana dos linchadores

*

Existirmos - a que será que se destina?

*

A mais triste nação
Na época mais podre
Compõe-se de possíveis
Grupos de linchadores

(retalhos de canções de Caetano Veloso)

[post originalmente publicado em 13 de Março de 2004]
Aos 15, 16 anos convivi muito com amigos cerca de 20 anos mais velhos que eu que me deram a conhecer muita da música da sua juventude, coisas irreverentes e subversivas num tempo em que ainda havia censura.
Do meio de tudo isso, certo dia, saiu O Operário em Construção.
A antologia de Vinicius onde consta o poema do post anterior foi, assim, o primeiro (ou um dos primeiros) livros de poesia que comprei.
Não sei como ainda não tinha colocado aqui nada de Vinicius de Moraes até hoje, data do 25º aniversário da sua morte.
Aproveito para referir a excelente evocação que o Ivan d' A Praia está a fazer, sobretudo o post em que se ouve a voz de Chico Buarque num belíssimo depoimento.

Saravá!
VINICIUS DE MORAES

Soneto da intimidade

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio as vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

(de O Operário em Construção e outros poemas, selecção e prefácio de Alexandre O'Neill, publicações Dom Quixote, 1986 - originalmente incluído em Novos Poemas, 1938)

8.7.05

KURT MARTI

folha anexa aos compêndios de história


as velhas guerras estão mortas
as batalhas com que os rapazes se enebriavam
os heróis cantados por professores -
já não existem

as velhas vitórias estão mortas
o esplendor dos senhores da guerra e a glória
de cair vencido num campo de honra -
já não existem

nada é mais obsceno que aquelas guerras
que ainda existem: sémen e óvulo
já em corpos jovens
radioactivados e assassinados

o campo de honra fica baldio
e já há muito os frutos apodreceram -
como monumento de vitórias futuras acena
o salto de mutação para o cretinismo

(de Poemas à Margem, tradução colectiva sob a orientação de Ruth Huber, Apáginastantas, 1987)
VERSOS PORQUE, EM LONDRES...:

7.7.05

[em face dos últimos acontecimentos]

THE CLASH

LONDON CALLING


London calling to the faraway towns
Now war is declared, and battle come down
London calling to the underworld
Come out of the cupboard, you boys and girls
London calling, now don't look to us
Phoney Beatlemania has bitten the dust
London calling, see we ain't got no swing
'Cept for the ring of that truncheon thing

The ice age is coming, the sun's zooming in
Meltdown expected, the wheat is growing thin
Engines stop running, but I have no fear
'Cause London is drowning, and I live by the river

London calling to the imitation zone
Forget it, brother, you can go it alone
London calling to the zombies of death
Quit holding out, and draw another breath
London calling, and I don't wanna shout
But when we were talking, I saw you nodding out
London calling, see we ain't got no high
Except for that one with the yellowy eyes

The ice age is coming, the sun's zooming in
Engines stop running, the wheat is growing thin
A nuclear era, but I have no fear
'Cause London is drowning, and I live by the river

Now get this

London calling, yes, I was there, too
An' you know what they said? Well, some of it was true!
London calling at the top of the dial
After all this, won't you give me a smile?
London calling

I never felt so much alike alike alike alike

(do álbum London Calling, 1979)