ALBERTO PIMENTEL / JOSÉ DANIEL RODRIGUES DA COSTA
BALÃO (O) aos habitantes da lua. Poema, heroi-comico em hum só canto. Por José Daniel Rodrigues da Costa. Lisboa, na Impressão Régia. Ano 1819.
Compõe-se de um prólogo em verso decassílabo pareado e de 80 estâncias.
O assunto é a viagem de um aeronauta à lua e a descrição dos usos e costumes estabelecidos entre os habitantes daquele planeta.
A graça do poema — e alguma tem realmente — está em passar-se na lua justamente o contrário do que se passa na terra. Por exemplo:
Temos quem nos governe com respeito,
Com justas Leis, que sobre nós imparão,
Tudo, quanto se manda, he logo feito,
Porque as Leis do paiz nunca se altérao.
Este mundo he da Lua, e mui perfeito,
Onde os raios do Sol mais reverbérão;
E por nosso brasão nos nossos planos,
Chamão-se a estes Povos os Lulanos.
O nosso Herói, que ao longe descobria
A Praça, que servia de Ribeira,
Lhe perguntou se sempre se comia
Peixe fresco da mão da vendedeira?
Disserão-lhe que sim, porque ha vigia,
Que manda o peixe podre á montureira;
Que o dono soffre á força esta diffcrença;
Mas que o Povo não compra uma doença;
Que nos açougues ha igual revista,
Nas tendas, padarias, e nas fructas,
Que estas em sendo verdes, mesmo á vista
De seus donos se pizão sem disputas;
Ninguém com estas cousas se malquista,
Que ha para as regular certas minutas,
Que assim a gente vive satisfeita,
Porque quanto se compra, se aproveita.
José Daniel foi, como se sabe, um gracejador popular e não um escritor ilustrado; mas na sua graça há observação e, por isso, uma eterna oportunidade.
Do Balão fez-se uma edição no Brasil em 1821.
(in Poemas Herói-Cómicos Portugueses (verbetes e apostilhas), editores Renascença Portuguesa / Annuario do Brasil, 1922)