11.6.03

Luis Cernuda nasceu em Sevilha em 1902.
Fez parte da Geração de 27.
Partidário da República, exilou-se em 1938. Viajou pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos.
Morreu no México em 1963.
É um dos maiores poetas de língua espanhola.

EL MIRLO, LA GAVIOTA

El mirlo, la gaviota,
El tulipán, las tuberosas,
La pampa dormida en Argentina,
El Mar Negro como después de una muerte,
Las niñitas, los tiernos niños,
Las jóvenes, el adolescente,
La mujer adulta, el hombre,
Los ancianos, las pompas fúnebres,
Van girando lentamente con el mundo;
Como si una ciruela verde,
Picoteada por el tiempo,
Fuese inconmovible en la rama.
Tiernos niñitos, yo os amo;
Os amo tanto, que vuestra madre
Creería que intentaba haceros daño.
Dame las glicinas azules sobre la tapia inocente,
Las magnolias embriagadoras sobre la falda blanca y vacía,
El libro melancólico entreabierto,
Las piernas entreabiertas,
Los bucles rubios del adolescente;
Con todo ello haré el filtro sempiterno:
Bebe unas gotas y verás la vida como a través de un vidrio coloreado.
Déjame, ya es hora de que duerma,
De dormir este sueño inacabable.
Quiero despertar algún día,
Saber que tu pelo, niño,
Tu vientre suave y tus espaldas
No son nada, nada, nada.
Recoger conchas delicadas:
Mira qué viso violado.
Las escamas de los súbitos peces,
Los músculos dorados del marino,
Sus labios salados y frescos,
Me prenden en un mundo de espejismos.
Creo en la vida,
Creo en ti que no conozco aún,
Creo en mí mismo;
Porque algún día yo seré todas las cosas que amo:
El aire, el agua, las plantas, el adolescente.

O MELRO, A GAIVOTA

O melro, a gaivota
A túlipa, o nardo
A pampa dormida na Argentina,
O Mar Negro como depois de uma morte,
As menininhas, os ternos meninos,
As jovens, o adolescente,
A mulher adulta, o homem,
Os anciãos, as pompas fúnebres,
Vão girando lentamente com o mundo;
Como se uma ameixa verde,
Bicada pelo tempo,
Fosse incomestível no ramo.
Ternos menininhos, eu vos amo;
Amo-vos tanto, que a vossa mãe
Pensava que queria fazer-vos mal.
Dá-me as glicínias azuis sobre o taipal inocente,
As magnólias embriagantes sobre a baínha branca e vazia
O livro melancólico entreaberto,
As pernas entreabertas,
Os caracóis ruivos do adolescente;
Com todo ele farei um filtro sempre eterno:
Bebe umas gotas e verás a vida como que através de um vidro colorido.
Deixa-me, já é a hora de eu dormir,
De dormir este sonho interminável.
Quero despertar qualquer dia,
Saber que o teu pelo, menino,
O teu ventre suave e as tuas costas
Não são nada, nada, nada.
Apanhar conchas delicadas:
Olha um reflexo violado.
As escamas dos súbitos peixes,
Os músculos dourados do mareante,
Seus lábios salgados e frescos,
Prendem-me a um mundo de miragens.
Creio na vida,
Creio em ti que não conheço ainda,
Creio em mim mesmo;
Porque algum dia serei todas as coisas que amo:
O ar, a água, as plantas, o adolescente.

(Tradução minha)

10.6.03

MATSUO BASHÔ
Matsuo Munefusa ou Kinsaku nasceu em 1644, em Ueno, no Japão (Província de Iga).
Quando um seu discípulo lhe ofereceu uma pequena bananeira adoptou para si o nome dessa planta – Bashô – da qual disse gostar precisamente pela sua inutilidade.
Foi viajante e poeta.
Morreu em Osaka em 1694.

O MESMO POEMA, VÁRIAS VERSÕES

Le plus illustre de cet haïku se contente d'évoquer le "ploff!" de la grenouille dans l'étang, qui accroît encore, en l'interrompant un instant, cette liquide, cette muette sérénité.
(Margueritte Yourcenar)

furuike ya
kawazu tobikomu
mizu no oto


[furu=velho / ike=tanque / ya / kawazu=rã / tobikomu=pula para dentro / mizu no oto=de água barulho – Paulo Franchetti]

Versões em português:

(Wenceslau de Moraes:)

Ah, o velho tanque! e o ruído das rãs atirando-se para a água!…

*

Um templo, um tanque musgoso ;
Mudez, apenas cortada
Pelo ruído das rãs,
Saltando à água. Mais nada…

(Jorge de Sena:)

Quebrando o silêncio
Do charco antigo a rã salta
N’água – ressoar fundo.

(Haroldo de Campos:)

o velho tanque
rã salt’
tomba
rumor de água


(Armando Martins Janeira:)

Ah! O velho poço!
uma rã salta
som da água.

(Stephen Reckert:)

O velho charco…
som da água
onde a rã mergulha

(Casimiro de Brito:)

No velho tanque
uma rã salta – mergulha.
ruído na água.

(Egito Gonçalves:)

Uma rã mergulha.
Um velho tanque.
Ruído de água

(Liberto Cruz:)

Um charco antigo
uma rã mergulha
o murmúrio da água

(Paulo Franchetti e Elza Taeko Doi:)

O velho tanque –
Uma rã mergulha,
Barulho de água

(Ana Hatherly:)

Velho tanque sonolento
rã que salta
som de água

(Paulo Rocha com a colaboração de António Reis:)

ah! o velho lago!
e repentina a rã no ar –
…o baque na água

(Jorge de Sousa Braga:)

O velho tanque
Uma rã mergulha
dentro de si

(já agora, a minha versão:)

(eis o poço antigo)
o som do salto da rã
ao entrar na água

Versões em castelhano:

(Octavio Paz:)

Um viejo estanque:
salta una rana izás!
chapaleteo.

(Anónimo?:)

Una rana salta al agua, escucha el sonido.

Versões em inglês:

(R. H. Blyth:)

The old pond:
A frog jumps in, –
The sound of the water.

*

The old pond;
The sound
Of a frog jumping into the water.

*

The old pond
The-sound-of-a-frog-jumping-into-the-water.

(Lafcadio Hearn:)

Old pond – frogs jumped in – sound of water

(Curtis Hidden Page:)

A lonely pond age-old stillness sleeps…
Apart, unstirred by sound or motion… till
Suddenly into it a lithe frog leaps.

(Edward G. Seidensticker:)

The quiet pond
A frog leaps in,
The sound of water

(William J. Higginson:)

old pond…
a frog leaps in
water’s sound

(Allen Ginsberg:)

Th’old pond – a frog jumps in. Kerplunk!

(Bernard Lionel Einbond:)

frog pond…
a leaf falls in
without a sound

(Stryck:)

Old pond
leap - splash
a frog.

(Beilenson:)

Old dark sleepy pool
quick unexpected frog
goes plop! Watersplash.

(Anónimo:)

At the ancient pond
a frog plunges into
the sound of water

(Anónimo:)

old pond
frog jumps in
the sound of water...

(kkizer:)

Listen! A frog
jumping into the stillness
of an ancient pond!

Versões em francês:

(Anónimo:)

Dans le vieil étang
Une grenouille saute
Un ploc dans l'eau

(René Siffert:)

Le vieil étang
une grenouille y saute
plouf

(Etiemble:)

Une vielle mare - Une raine en vol plongeant et l'eau en rumeur