TRÊS POETAS IMAGISTAS
EZRA POUND
uma rapariga
A árvore entrou nas minhas mãos,
A seiva subiu pelos meus braços,
A árvore cresceu dentro do meu peito -
Para baixo,
Os ramos cresceram para fora de mim, como braços.
Tu és árvore,
Tu és musgo,
Tu és violetas com vento sobre elas.
Tu és uma criança - tão alta -
E tudo isto, para o mundo, é disparate.
D. H. LAWRENCE
amigos íntimos
Não te importas com o meu amor? - disse-me ela asperamente.
Entreguei-lhe o espelho e disse:
Dirige, por favor, essas perguntas à pessoa indicada!
Faz as tuas consultas ao quartel-general!
Em todos os assuntos de importância emocional
Contacta directamente com a suprema autoridade! -
- E entreguei-lhe o espelho.
Ela devia tê-lo partido na minha cabeça
mas recebeu dele a sua própria imagem
e manteve-se suspensa dois segundos
enquanto eu fugia.
H. D.
A tua cabeça
está coroada de murta,
está coroada de louro,
está coroada com uma rosa
encarnada;
Deus sabe
(sendo Deus)
porque estás tu aqui connosco,
porque brincas e traficas
porque jogas
tu connosco;
se ganhas
se perdes,
tu importas-te?
um laço é o Amor,
uma afronta,
os que ficam mutilados pelo Amor,
trôpegos, gaguejantes e idiotas,
perdidos no mundo,
difamados,
cingidos com violetas à roda dos tornozelos,
com mirra
e com mirra entre-aberta,
arrastando inesprimível doçura
e perdidos,
perdidos;
uma ruína
uma coisa circunscrita
é um coração de homem
comovido pelo vento
do êxtase imortal,
nós somos mutilados e fracos
e contudo
eu estava morta
e acordaste-me,
foste-te agora,
eu estou morta.
(in Tempo Presente, 5 - Setembro de 1959 - traduções de Fernando Guedes)
1.11.03
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Chegou ontem um companheiro secreto
30.10.03
Responsáveis...
O Zé Diogo Quintela, um dos do (sublime) Gato Fedorento, assume hoje um tom mais sério para comentar as palavras de Catalina Pestana que afirmou anteontem (como já tinha feito noutras ocasiões) que todos somos responsáveis.
Parece-me que ZDQ (como muito boa gente deste País) não percebeu aquilo que eu acho que percebi.
Não entendo as palavras da Provedora da Casa Pia como uma acusão colectiva, como se a culpa, neste caso específico, fosse de todos (e portanto de ninguém).
O que creio que a Dra Catalina quer dizer é que todos somos responsáveis uns pelos outros e particularmente pelos mais frágeis - as crianças, certamente, e em particular as mais abandonadas, mas também os mais velhos, mas também os deficientes, mas também os que vivem na pobreza.
É algo que devia ser claro numa Democracia: somos a garantia da felicidade uns dos outros; todos temos a obrigação de contribuir, como soubermos e pudermos, para o bem-estar de todos, para além do estrito cumprimento de leis e normas instituídas.
A culpa é sem dúvida dos que abusaram, dos que calaram, dos que foram cúmplices, mas isso não impede que cada um de nós possa ser um cidadão responsável.
O Zé Diogo Quintela, um dos do (sublime) Gato Fedorento, assume hoje um tom mais sério para comentar as palavras de Catalina Pestana que afirmou anteontem (como já tinha feito noutras ocasiões) que todos somos responsáveis.
Parece-me que ZDQ (como muito boa gente deste País) não percebeu aquilo que eu acho que percebi.
Não entendo as palavras da Provedora da Casa Pia como uma acusão colectiva, como se a culpa, neste caso específico, fosse de todos (e portanto de ninguém).
O que creio que a Dra Catalina quer dizer é que todos somos responsáveis uns pelos outros e particularmente pelos mais frágeis - as crianças, certamente, e em particular as mais abandonadas, mas também os mais velhos, mas também os deficientes, mas também os que vivem na pobreza.
É algo que devia ser claro numa Democracia: somos a garantia da felicidade uns dos outros; todos temos a obrigação de contribuir, como soubermos e pudermos, para o bem-estar de todos, para além do estrito cumprimento de leis e normas instituídas.
A culpa é sem dúvida dos que abusaram, dos que calaram, dos que foram cúmplices, mas isso não impede que cada um de nós possa ser um cidadão responsável.
28.10.03
27.10.03
MATIAS AIRES
Não somos firmes no amor, porque em nada podemos ser constantes: continuamente nos vai mudando o tempo; uma hora de mais é mais em nós uma mudança. A cada passo que damos no decurso da vida, imos nascendo de novo, porque a cada passo imos deixando o que fomos, e começamos a ser outros: cada dia nascemos porque cada dia mudamos, e quanto mais nascemos desta sorte, tanto mais nos fica perto o fim, que nos espera. A inconstância que é um acto da alma, ou da vontade, não se faz sem movimento; a natureza não se conserva, e dura, senão porque se muda, e move. O mundo teve o seu princípio no primeiro impulso, que lhe deu o supremo Artífice; a mesma luz, que é uma bela imagem da Omnipotência, toda se compõe de uma matéria trémula, inconstante, e vária. Tudo vive enfim do movimento; a falta de mudança é o mesmo que falta de vida, e de existência, e assim a firmeza é como um atributo essencial da morte.
Se em nada pois há permanência, e se o estado da firmeza é contrário às leis da vida, como pode ser que haja amor constante? Isso é um impossível desejado. Não há nada isento das revoluções, e alterações do mundo; tudo nele se muda, porque tudo se move; por isso a firmeza é violenta, ao mesmo tempo que a inconstância é natural. Para sermos firmes, é-nos necessário força, porque temos que vencer a economia, e ordem, que não permite repouso em cousa alguma; para mudarmos a mesma natureza nos inclina, e guia; semelhante a qualquer peso, que sobe com violência, e desce por si mesmo. O movimento, e a mudança, de que depende o ser das cousas, também é princípio do fim delas; sem mudança, e movimento, nem se pode existir, nem acabar; a mesma origem da vida também é da morte a causa; por isso é tão certa a morte, e tão curta a vida; porque um, e outro extremo, nascem do mesmo modo, e se criam no mesmo berço.
O amor é um influxo da beleza, por isso esta raras vezes anda solitária e quási sempre a acompanha o amor: agradável mas louca companhia; apetecida, mas traidora felicidade! (...)
(de Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, 1752 - edição da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, com prefácios, fixação do texto e notas por Jacinto do Prado Coelho e Violeta Crespo Figueiredo, 1980)
Não somos firmes no amor, porque em nada podemos ser constantes: continuamente nos vai mudando o tempo; uma hora de mais é mais em nós uma mudança. A cada passo que damos no decurso da vida, imos nascendo de novo, porque a cada passo imos deixando o que fomos, e começamos a ser outros: cada dia nascemos porque cada dia mudamos, e quanto mais nascemos desta sorte, tanto mais nos fica perto o fim, que nos espera. A inconstância que é um acto da alma, ou da vontade, não se faz sem movimento; a natureza não se conserva, e dura, senão porque se muda, e move. O mundo teve o seu princípio no primeiro impulso, que lhe deu o supremo Artífice; a mesma luz, que é uma bela imagem da Omnipotência, toda se compõe de uma matéria trémula, inconstante, e vária. Tudo vive enfim do movimento; a falta de mudança é o mesmo que falta de vida, e de existência, e assim a firmeza é como um atributo essencial da morte.
Se em nada pois há permanência, e se o estado da firmeza é contrário às leis da vida, como pode ser que haja amor constante? Isso é um impossível desejado. Não há nada isento das revoluções, e alterações do mundo; tudo nele se muda, porque tudo se move; por isso a firmeza é violenta, ao mesmo tempo que a inconstância é natural. Para sermos firmes, é-nos necessário força, porque temos que vencer a economia, e ordem, que não permite repouso em cousa alguma; para mudarmos a mesma natureza nos inclina, e guia; semelhante a qualquer peso, que sobe com violência, e desce por si mesmo. O movimento, e a mudança, de que depende o ser das cousas, também é princípio do fim delas; sem mudança, e movimento, nem se pode existir, nem acabar; a mesma origem da vida também é da morte a causa; por isso é tão certa a morte, e tão curta a vida; porque um, e outro extremo, nascem do mesmo modo, e se criam no mesmo berço.
O amor é um influxo da beleza, por isso esta raras vezes anda solitária e quási sempre a acompanha o amor: agradável mas louca companhia; apetecida, mas traidora felicidade! (...)
(de Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, 1752 - edição da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, com prefácios, fixação do texto e notas por Jacinto do Prado Coelho e Violeta Crespo Figueiredo, 1980)
26.10.03
Descubro no Aviz, que o tinha descoberto no Latinista Ilustre, que, por sua vez o descobriu no Almocreve das Petas, uma biblioteca invisível.
Veio-me logo à memória o fantástico prefácio que Jorge de Sena fez para as QVYBYRYCAS de Frey Ioannes Garabatus, editadas em 1972. (Deste livro foi feita em 1972 uma "edição clandestina" de 1500 exemplares, em Lourenço Marques. A 2ª é das edições Afrontamento, em 1991, que, creio, ainda estará disponível em algumas livrarias ou por encomenda)
Seguem-se, pois, as referência bibliográficas das primeiras seis páginas de um texto de vinte e duas. (É apenas uma amostra. A verdadeira dimensão deste lucidíssimo delírio só pode ser apreendida com a leitura do próprio prefácio e, obviamente, da obra em si.)
Aristóteles, DeO culis
Carolina Michaelis da Silva, Bases para o Estudo Oftalmológico da Filosofia, Coimbra, 1917
Leite de Vasconcelos, Palavras Obscenas da Língua Portuguesa, sua etimologia e persistência (manuscrito inédito)
Karl Staigersson, Os Géneros na Teoria e na Prática, ensaio psico-sexual sobre as origens e sentido actual de um velho conceito poético-retórico, tradução de Oto Maria de Campos, São Paulo, 1967
Jean Carriel des Oursins, L'Anti-Tout comme clé des structures modernes, Paris, 1972
Fernando Aldeia, A Literatura de Incitamento à Restauração, antes, durante e depois dos Filipes, 1941 (Publicações do Centro Nacional de Bibliografia Nacionalista, nº 11)
Pe. Pilírio dos Reis Leitão do Prado, Os Apátridas de 70 e a Conspiração Anti-Camoneana, Braga, 1927
Serapião dos Santos Muscoso de Aragão Herédia da Costa, «Sobre algumas lacunas da chamada Geração de 70, a propósito de um verso de Teófilo Braga na Visão dos Tempos e da crítica de António Feliciano de Castilho, com uma carta inédita de Camilo Castelo Branco» in Brotoeja, vol. CCXVII, 1940, número especial dedicado às Comemorações do Duplo Centenário, pp. 37-39
J. Montachado Malvão, A Rosa dos Ventos no Promontório de Sagres, e o seu significado para a história de Portugal, Lisboa, 1967
Sebastião da Costa Dias, O Cabo espichel no sentimento religioso dos séculos XVII a XX, 4 vols., Coimbra, 1965
Comandante Júlio Fontes de Alarcão, Cabos e Cabos, notas sobre o papel histórico do Cabo da Roca, Lisboa, 1969
Herculano Girino Salgueiro, Glotologia Geográfica de Portugal, Abrantes, 1935 (em especial o capítulo sobre «Cabos e os seus homógrafos»)
Anthropos Calistidines, The Inertia of Perfection, Chapell Hill, 1897
Anna Balandrau, The Genesis of Modernism and its Genetics, New York, 1970
Andrew Harikari, L'Education Civique dans ses relations avec l'entretrinement moral des cadavres, Publications de l'Academie Anatomique et Patologique de la France du Sud-Ouest, vol. XCI, 1887
Parmesano Triocchi, Pilosa crura, un tema sessuale del Medioevo, Saggi sulla motivazioni della inspirazione poetica, Bari, 1969
Prof. Doutor Fernando Faria Osório de Castilho e Vasconcelos de Menezes Horta Pimentel, O Museu Etnológico de Belém e a Sepultura de Camões, notas para o estabelecimento do ano exacto do falecimento do Épico à luz da Arqueologia do Concelho de Vinhais, separata factícia dos Anais da Academia Portuguesa de Ginecologia e Obstetrícia, vol. LII, 1947, p. 28
Orlandino de Mascarenhas Gondim, Obras Completas, Lisboa, 1967
B. Acha de Farol, 79 ou 80, um enigma histórico, Leiria, 1958, premiado pela Academia de História
Prof. Viegas Mariz, A Sexualidade Portuguesa - investigações sobre o incesto e a desobediência, Porto, 1925
Joaquim Cerdo, «D. Tareja ou o respeito devido às mães portuguesas», Anais da Academia Portuguesa da Língua, vol. 77, 1939
C. G. Jung, «Eros, Anteros und Antiteros» in Gespräche mit Freud, Leipzig, 1915
Caligule Abraham Strauss, Structures de la Maternité, Paris, 1966
James Parrot, What cannot be said is really Pornography?, University of South Pennsylvania, Alamo Gordo, 1968, Publications for the Advancement of Interdisciplinary Matters, nº 31
Reneé D'Arbués, L'Intra-Texte - méditations sur le Sens des Ouvertures au dessus et au dessous des Oeuvres dites Littéraires, Paris, 1971
Enid Geistlich, Das Schwert des Avant-Propos, Heidelberg, 1965
Amos Siddharta Kalasidaharahrti, Seisianisanitsam, Benares, 1962
Veio-me logo à memória o fantástico prefácio que Jorge de Sena fez para as QVYBYRYCAS de Frey Ioannes Garabatus, editadas em 1972. (Deste livro foi feita em 1972 uma "edição clandestina" de 1500 exemplares, em Lourenço Marques. A 2ª é das edições Afrontamento, em 1991, que, creio, ainda estará disponível em algumas livrarias ou por encomenda)
Seguem-se, pois, as referência bibliográficas das primeiras seis páginas de um texto de vinte e duas. (É apenas uma amostra. A verdadeira dimensão deste lucidíssimo delírio só pode ser apreendida com a leitura do próprio prefácio e, obviamente, da obra em si.)
Aristóteles, DeO culis
Carolina Michaelis da Silva, Bases para o Estudo Oftalmológico da Filosofia, Coimbra, 1917
Leite de Vasconcelos, Palavras Obscenas da Língua Portuguesa, sua etimologia e persistência (manuscrito inédito)
Karl Staigersson, Os Géneros na Teoria e na Prática, ensaio psico-sexual sobre as origens e sentido actual de um velho conceito poético-retórico, tradução de Oto Maria de Campos, São Paulo, 1967
Jean Carriel des Oursins, L'Anti-Tout comme clé des structures modernes, Paris, 1972
Fernando Aldeia, A Literatura de Incitamento à Restauração, antes, durante e depois dos Filipes, 1941 (Publicações do Centro Nacional de Bibliografia Nacionalista, nº 11)
Pe. Pilírio dos Reis Leitão do Prado, Os Apátridas de 70 e a Conspiração Anti-Camoneana, Braga, 1927
Serapião dos Santos Muscoso de Aragão Herédia da Costa, «Sobre algumas lacunas da chamada Geração de 70, a propósito de um verso de Teófilo Braga na Visão dos Tempos e da crítica de António Feliciano de Castilho, com uma carta inédita de Camilo Castelo Branco» in Brotoeja, vol. CCXVII, 1940, número especial dedicado às Comemorações do Duplo Centenário, pp. 37-39
J. Montachado Malvão, A Rosa dos Ventos no Promontório de Sagres, e o seu significado para a história de Portugal, Lisboa, 1967
Sebastião da Costa Dias, O Cabo espichel no sentimento religioso dos séculos XVII a XX, 4 vols., Coimbra, 1965
Comandante Júlio Fontes de Alarcão, Cabos e Cabos, notas sobre o papel histórico do Cabo da Roca, Lisboa, 1969
Herculano Girino Salgueiro, Glotologia Geográfica de Portugal, Abrantes, 1935 (em especial o capítulo sobre «Cabos e os seus homógrafos»)
Anthropos Calistidines, The Inertia of Perfection, Chapell Hill, 1897
Anna Balandrau, The Genesis of Modernism and its Genetics, New York, 1970
Andrew Harikari, L'Education Civique dans ses relations avec l'entretrinement moral des cadavres, Publications de l'Academie Anatomique et Patologique de la France du Sud-Ouest, vol. XCI, 1887
Parmesano Triocchi, Pilosa crura, un tema sessuale del Medioevo, Saggi sulla motivazioni della inspirazione poetica, Bari, 1969
Prof. Doutor Fernando Faria Osório de Castilho e Vasconcelos de Menezes Horta Pimentel, O Museu Etnológico de Belém e a Sepultura de Camões, notas para o estabelecimento do ano exacto do falecimento do Épico à luz da Arqueologia do Concelho de Vinhais, separata factícia dos Anais da Academia Portuguesa de Ginecologia e Obstetrícia, vol. LII, 1947, p. 28
Orlandino de Mascarenhas Gondim, Obras Completas, Lisboa, 1967
B. Acha de Farol, 79 ou 80, um enigma histórico, Leiria, 1958, premiado pela Academia de História
Prof. Viegas Mariz, A Sexualidade Portuguesa - investigações sobre o incesto e a desobediência, Porto, 1925
Joaquim Cerdo, «D. Tareja ou o respeito devido às mães portuguesas», Anais da Academia Portuguesa da Língua, vol. 77, 1939
C. G. Jung, «Eros, Anteros und Antiteros» in Gespräche mit Freud, Leipzig, 1915
Caligule Abraham Strauss, Structures de la Maternité, Paris, 1966
James Parrot, What cannot be said is really Pornography?, University of South Pennsylvania, Alamo Gordo, 1968, Publications for the Advancement of Interdisciplinary Matters, nº 31
Reneé D'Arbués, L'Intra-Texte - méditations sur le Sens des Ouvertures au dessus et au dessous des Oeuvres dites Littéraires, Paris, 1971
Enid Geistlich, Das Schwert des Avant-Propos, Heidelberg, 1965
Amos Siddharta Kalasidaharahrti, Seisianisanitsam, Benares, 1962
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Grabato Dias,
Jorge de Sena
[Numa entrada de 28 de Setembro, o Jorge Reis-Sá questiona-se sobre o lirismo. Talvez este excerto de um texto com mais de 50 anos ajude um pouco a iluminar, não só as dúvidas do Jorge, mas as de nós todos.]
DAVID MOURÃO-FERREIRA
LIRISMO
(...)
1949
(in Távola Redonda, fasc. 1, de 15 de Janeiro de 1950 - reproduzido em Motim Literário, editorial Verbo, 1962 - os sublinhados são os do original)
DAVID MOURÃO-FERREIRA
LIRISMO
(...)
Uma elegia de Jiménez ou um soneto de Camões, a Evocação do Recife de Manuel Bandeira ou A Tortura das Quimeras de Gomes Leal, La Nuit d'Exil de Aragon ou a Barca Bela de Garrett - são poesias indiscutivelmente líricas. Inútil procurar uma natureza de motivos, que as irmane ou aproxime. A afinidade, entre poesias de natureza tão diversa, cifra-se, em primeiro lugar, na maneira involuntária e urgente como os motivos se apresentam (ou melhor: se impuseram) aos respectivos poetas. Argumentar-se-á: - como saber se tais motivos se impuseram ao poeta, de maneira involuntária e urgente? E a este argumento só poderá responder o poeta, ou o leitor atento de poesia (que, no fundo, é também um poeta): esse carácter de involuntariamente urgente, que determina o tratamento de um motivo, adivinha-se, surpreende-se, pressente-se... Nisso consiste o mistério da poesia: na maneira involuntária e urgente como os motivos se impõem. Mas esta noção de mistério não deve ir mais além: bem será que não perturbe o processo de desenvolvimento dos motivos e que intervenha nos aspectos técnicos ou formais. Perante a poesia, têm sempre existido duas atitudes falsas, e falsificadas: uma, que não admite a participação de mistério e encara a criação poética como actividade estritamente racional e deliberada; e outra, que estende absurdamente o mistério inicial (da misteriosa imposição de motivos) até ao campo da construção.
(...)1949
(in Távola Redonda, fasc. 1, de 15 de Janeiro de 1950 - reproduzido em Motim Literário, editorial Verbo, 1962 - os sublinhados são os do original)
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David Mourão-Ferreira,
prosa
Tenho andado um pouco cansado e tenho vindo pouco à blogolândia.
Ainda assim descobri os blogs (nenhum deles novo) do Jorge Reis-Sá, do George W. Bush e do valter hugo mãe.
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